A
8 de Agosto, em que o Museu de Ílhavo cumpriu as suas 77 primaveras, a AMI teve
o prazer de enriquecer a colecção de pintura, que, desde o ano passado, se
exibe em sala apropriada para o efeito, – o melhor dos nossos maiores e não
só…. Temas marítimos ou lagunares, dentro de
determinadas correntes que se consideram essenciais na colecção.
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Retrocedendo
no tempo, sabemos que o Museu possui dois óleos que representam camponesas de
Ílhavo, no seu trajar.
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O
primeiro, de J. P. Ribeiro, pintura a óleo sobre
madeira, Camponesa de Ílhavo, assinado, datado de 1869 (no reverso),
39x29 cm. Ei-lo:
Camponesa de Ílhavo, 1869
O segundo, Camponesa
de Ílhavo (o mesmo título), revela-nos também o rico traje tradicional
da camponesa de Ílhavo, em finais do século XIX. Esta mulher também enverga um
chapeirão de
feltro preto debruado a cetim, de abas bastante largas, soerguido por um lenço vermelho
lavrado. Camisa branca de mangas folgadas, saia e colete, escuros. Este, de fazenda ou até
mesmo de veludo, prende no peito por abotoadura de prata, de par.
Bonita
algibeira debruada e brincos compridos de ouro dão um último toque ao vestuário
que enobrece a camponesa, que, no entanto, se apresenta descalça. Cordão de
filigrana ao pescoço completa o adereço.
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Camponesa de Ílhavo, 1875*
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É um óleo
sobre metal de 1875, assinado, datado, 42,5x32 cm., da autoria de Francisco
José Resende (1825
- 1893). Foi
adquirido em 1958 pela CMI ao Sr. Albano Pinto da Cunha Ferreira, do Porto, por
2.500$00.
Pelo início
dos anos 90, o Arquitecto Quininha, de quem fui amiga, trouxe-me,
carinhosamente, um postal da Camponesa
de Ílhavo, também reprodução
de óleo de F. José Resende, que encontrara à venda no então MNAC. Guardei-o,
mas agora, aprecio-o mais. O tal quadro vem citado, verifiquei, no Dicionário
de Pintores e Escultores Portugueses de F. de Pamplona.
Postal do MNAC
Este óleo
sobre tela, de 66x47 cm, datado de 1867, representado no postal, que é suposto
estar nas reservas do actual Museu do Chiado, enriqueceria um pouco mais a
nossa colecção, mas as pertenças de cada museu são para serem respeitadas, salvo
raras excepções de depósito ou cedência. Algumas semelhanças e algumas
diferenças.
Talvez pelas cores empasteladas de uma luminosidade sombria, e pela elegante posição
da figura em causa, é de uma nobreza e beleza extraordinárias. Parece demasiado
rica e nobre para camponesa. No entanto, também está descalça… trajando de modo
perfeitamente idêntico.
O grande
pintor Francisco José Resende
interessava-se mesmo pelo traje da camponesa de Ílhavo
– pelo menos, são-lhe conhecidos três quadros, sobre o mesmo tema…
Até agora,
tudo esclarecido, quanto às camponesas… Qual terá sido, então, a surpresa dos
AMI, pra o MMI?
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Recuemos a Dezembro de 2013… Ali pelo dia 13, fui informada por uma mensagem privada de FB, por alguém sabedor, que a pintura de José F. Resende intitulada Costume de Aveiro-Vareiro ia ser vendida no lote nº 146, na leiloeira Cabral Moncada Leilões, no pretérito dia 16 do referido mês. Com as dimensões de 55 x 40,5 cm., é assinada e datada do Porto, Fevereiro de 1863. A base de licitação oscilava entre os 1.800 e os € 2.700.
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O informador, sabedor, mais dizia que se tratava de uma pintura iconograficamente importante para a região, vendo-se um homem com o tradicional gabão e barcos moliceiros na ria (?). Mais dizia que existiam pinturas do mesmo autor Camponesa de Ílhavo-Vareira, no Museu do Chiado em Lisboa e no Museu Marítimo de Ílhavo.
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O informador, sabedor, mais dizia que se tratava de uma pintura iconograficamente importante para a região, vendo-se um homem com o tradicional gabão e barcos moliceiros na ria (?). Mais dizia que existiam pinturas do mesmo autor Camponesa de Ílhavo-Vareira, no Museu do Chiado em Lisboa e no Museu Marítimo de Ílhavo.
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E tudo isto era verdade. Mas, que fazer?
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Sozinha, diante do computador, nem tugi nem mugi. Entupi. Não disse nada. Quem não tem dinheiro não tem vícios, como sói dizer-se, e a situação económica da AMI, às voltas com a vinda da bateira ílhava para o museu, da sua oferta e do seu pagamento não era das mais folgadas. Pensei «cá com os meus botões» – talvez não se venda e volte a ir a leilão, numa altura mais solta, para nós, Amigos do Museu.
E tudo isto era verdade. Mas, que fazer?
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Sozinha, diante do computador, nem tugi nem mugi. Entupi. Não disse nada. Quem não tem dinheiro não tem vícios, como sói dizer-se, e a situação económica da AMI, às voltas com a vinda da bateira ílhava para o museu, da sua oferta e do seu pagamento não era das mais folgadas. Pensei «cá com os meus botões» – talvez não se venda e volte a ir a leilão, numa altura mais solta, para nós, Amigos do Museu.
O Homem do Gabão, 1863
A preocupação e a azáfama com a bateira eram grandes e, olha…, o quadro ficava entregue ao destino – é que o «homem de gabão» não era mais nem menos do que um ílhavo e os barcos que se viam eram tão só umas silhuetas de umas ílhavas (a situada em último plano, com pormenores de velame muito curiosos) brochadas a negro pelo pincel do pintor de oitocentos.
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Com as contas mais revigoradas, por Fevereiro, soubemos, com enorme surpresa, que o quadro tinha sido retido, para uma aquisição posterior. E assim foi, mais um rombo na economia da associação, mas o homem de Ílhavo, de gabão castanho, de barrete escuro, de manaias e de camiseta esbranquiçadas, era «nosso».
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Além do mais, iria acasalar com a mulher de Ílhavo, há décadas, celibatária.
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* Entretanto, o óleo em causa recolheu a reservas, para ser sujeito a um restauro minucioso, o mais brevemente possível, a expensas dos Amigos do Museu.
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Ílhavo, 10 de Agosto de 2014
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Ana Maria Lopes
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Além do mais, iria acasalar com a mulher de Ílhavo, há décadas, celibatária.
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* Entretanto, o óleo em causa recolheu a reservas, para ser sujeito a um restauro minucioso, o mais brevemente possível, a expensas dos Amigos do Museu.
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Ílhavo, 10 de Agosto de 2014
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Ana Maria Lopes
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