Embora
com alguma fugacidade, não queremos que passe despercebida do Marintimidades a exposição fotográfica
da construção da ílhava, exibida no
MMI, aquando da apresentação pública desta nossa bateira.
-
Quem
viveu a aventura desta recriação fê-lo com paixão. Para além do mais,
acompanhou durante meses, a perícia, o gosto, a minúcia, a arte com que a
Etelvina fez estes registos fotográficos para memória futura. São apenas 20 imagens de razoável dimensão, que
fazem parte de centenas que clicou
durante meses, desde o lançamento da tábua
da quilha da embarcação, até ao seu regresso às origens – Ílhavo.
Quem
acompanhou a montagem desta exposição, teve a sensação de que se trabalhou em
arame de circo, por «contratempos» de vida que o empenho e a coragem superaram.
Mas, valeu a pena! Foi unânime a opinião dos observadores – um apontamento de
cariz etnográfico que embrulha muito de sociológico, de antropológico, de
sócio-cultural e de histórico.
Melhor
do que as nossas palavras, o texto introdutório da própria autora revela o que
ela procurou e viveu, neste registo. Ei-lo:
Bateira ílhava, uma embarcação secular
Uma embarcação com
vínculo e apelido das gentes de Ílhavo.
Segundo dados
históricos, esta embarcação é referenciada a partir do século XVIII, tendo-se
extinguido no século XX.
Herdando o nome da
sua terra natal, esta bateira terá sido criada com o propósito de servir as
gentes da borda-d’água lagunar, passando posteriormente para o mar. Terá sido
um artefacto de trabalho, uma ferramenta polivalente, servindo para toda a
faina. Mais tarde, migrou para as águas do Douro e do Tejo, tendo-se ali extinguido,
não deixando rasto.
Não restando exemplar
físico da embarcação, alguns estudiosos desenharam e maquetaram um protótipo
com base em documentos escritos, registos imagéticos e gráficos.
A ideia de construir
uma réplica desta embarcação secular tem vindo a ser alimentada ao longo dos
anos.
Em Junho de 2013, a Associação dos Amigos
do Museu Marítimo de Ílhavo formou uma equipa de trabalho para concretizar este
sonho – reconstruir um elemento patrimonial identitário da região, já perdido.
Por iniciativa desta
Associação, estudou-se, elaborou-se, supervisionou-se e custeou-se todo o
projecto. Actualmente, pode-se apreciar o belo exemplar da bateira ílhava
exposto na Sala da Ria deste Museu.
Construída na
borda-d’água, em Pardilhó, num estaleiro naval tradicional, por um conceituado
mestre, foi imperativo manter o processo construtivo, os materiais e
acabamentos tradicionais, fidedignos com a realidade de outrora.
Apresentada ao
público, no dia 11 de Janeiro de 2014, a réplica da bateira ílhava, uma peça
única em ambiente museológico, transmite através do sistema construtivo, dos
materiais, da sua forma e história funcional, um conjunto de elementos de cariz
etnográfico, identitários da nossa região.
Recuperou-se um
património imaterial, materializando-se nesta réplica. Um bom exemplo e um
contributo para trabalhos futuros.
Esta breve exposição
de fotografia tem como objectivo dar a conhecer, através de alguns apontamentos
imagéticos, algumas fases do processo construtivo da emblemática embarcação.
Pretende-se, ainda,
de forma sucinta, transmitir alguns momentos de rara beleza e encantamento
vividos dentro de um estaleiro, durante a construção de um artefacto artesanal
– luz, odor, textura, cor, brilho, pó... tudo isto se entranha na alma!
AMI, Presidente – Dr. Aníbal Paião
Equipa de trabalho – Capitão Marques da Silva, Eng.º
Senos Fonseca, Dr.ª Ana Maria Lopes, coordenadora do projecto.
Construtor naval – Mestre António Esteves (o
Pardaleiro)
Vela – Marco Silva e família.
Fotografia: Etelvina Almeida
Para amostra, fazendo crescer
água na boca:
Esculpindo…
Em pose…
Assentamento acrobático…
Com ritmo…
Vestida com vela içada…
Texto introdutório e imagens – Etelvina Almeida
Ílhavo, 15 de Janeiro de 2014
AML
-
Muito obrigada Ana Maria, pelas amáveis palavras no seu Blog acerca da exposição de fotografia; pela divulgação junto dos seus leitores e pelo seu entusiasmo contagiante, antes e durante a construção desta réplica - a bateira "ílhava".
ResponderEliminar...é o "regresso" à terra que a viu nascer e da qual herdou o nome - Ílhavo!
Etelvina Almeida
Acho estranho ver o castelo de proa da ILHAVA com uma borda da altura do quebra-mar formando uma espécie de caixa e também não vi aberturas no casco para que a agua entrada voltasse a sair... assim aqueles que se sentavam no quebra-mar, para remarem com o cambão, ficavam com as calças ensopadas e o tal quebra-mar perdia a sua função de impedir a agua de entrar na embarcação.... Não esqueçam que as ilhavas que nas fotografias estão encostadas nas praias sem leme e estão varadas de ré porque os 12 remadores ficam da meia nau para a proa e assim é mais fácil de desencalhar/galear...
ResponderEliminarAntonio Angeja