quarta-feira, 20 de novembro de 2013

MARESIAS | Senos da Fonseca



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A Associação Chio-Pó-Pó, Senos da Fonseca (autor) e João Batel (ilustrador) têm o prazer de convidar os Amigos a estarem presentes, no dia 22 de Novembro de 2013, pelas 21 horas, na apresentação do livro de poemas Maresias, no Auditório do Museu Marítimo de Ílhavo.
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Inspirado conjunto de poesias, recolhidas e seleccionadas, a partir de 2006, subdivididas em doze temas, sobretudo, oferecidas à ria, ao mar, ao amor, à saudade, à inquietude, à solidariedade, à Natividade, à liberdade e a outros…
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Como assume o autor na Introdução, os momentos da criação destes poemas foram, quase sempre, o fim da noite. Por isso, eles são um pouco vagabundos, apesar da ordenação.
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O poeta, que prefere (mais) parecê-lo do que sê-lo, encontrou sempre na ria, bodo sensorial inebriante, o êxtase para se confidenciar em verso.
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O palco estará cheio de «amigos» para falarem aos amigos presentes dos impulsos poéticos do autor.
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Ílhavo, 20 de Novembro de 2013
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Ana Maria Lopes
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domingo, 17 de novembro de 2013

Apresentação da «Terras de Antuã», na Câmara de Estarreja

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Ontem, sábado, por ocasião da comemoração do 494º aniversário da outorga do Foral à vila de Antuã, por D. Manuel, em 15 de Novembro de 1519, foi apresentado o número sete da revista Terras de Antuã – História e Memórias do Concelho de Estarreja, mais uma vez com uma assistência numerosa, no belíssimo Salão Nobre dos Paços do Concelho, numa sessão presidida pelo Presidente da Câmara Municipal de Estarreja, Diamantino Sabina.
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Este VII volume, fim de um ciclo,  é constituído por 13 artigos de dezasseis autores, cujas temáticas vão desde a arqueologia, passando pela arte popular, arte sacra, biografia, conflitos sociais, documentação, construção naval, emigração, entre outras.
Para nós foi gratificante participarmos com o singelo artigo sobre o convívio que fomos tendo desde os anos 80, com o prestigiado Mestre Henrique Lavoura, de Pardilhó, construtor de machado e enxó, até à desactivação do seu estaleiro. Foi sobretudo a construção do barco moliceiro ALFREDO REBELO, que acompanhámos, de que ele nos foi fornecendo todos os pormenores, desde a colocação da tábua da quilha no picadeiro até ao bota-abaixo, na Ribeira da Aldeia. Memórias recentes que, depressa, se tornarão longínquas.
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No estaleiro de Mestre Henrique Lavoura
Desta vez, a capa da Terras de Antuã apresenta uma imagem do Dr. Francisco Barbosa da Cunha e Melo, destacado eclesiástico, natural do concelho de Estarreja, que, para além de Cónego da Sé de Braga, presidiu à Comissão Organizadora do Monumento da Imaculada Virgem do Sameiro, naquela cidade.
Temos o prazer de colaborar com a revista, sabiamente dirigida pelo Dr. Delfim Bismarck, desde o quinto volume, sempre com matérias distintas, relativas à construção naval.
Congratulamo-nos, este ano, com o facto de haver cerca de quatro artigos sob o mesmo tema e com a notícia de grande parte do espólio de construção naval do Mestre Lavoura ter sido doado, pela família, à Câmara de Estarreja, estando, presentemente à guarda da Junta de Freguesia de Pardilhó, depois de ter sido devidamente inventariado – limpo, tratado, preservado, fotografado, etiquetado, medido e descrito, aguardando futura musealização.
Regressámos de Estarreja, com o espírito mais leve, mais arejado e com novos projectos em mente.
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Ílhavo, 17 de Novembro de 2013
Ana Maria Lopes

domingo, 10 de novembro de 2013

A apanha do «crico» na Ria de Aveiro

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A apanha de bivalves na Ria de Aveiro anda na ordem do dia, sobretudo por causa das interdições devidas à presença de toxinas marinhas. (DA de 5. Novembro.2013).
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A nossa ria, desde muito cedo, foi rica em bivalves, tendo-se tornado numa riqueza piscícola, que deu subsistência a uma quantidade grande de pescadores, que mais se interessaram e dedicaram por aquela actividade pesqueira. O berbigão, a amêijoa, o burrié, e até a ostra em tempos recentes (avistam-se viveiros, mesmo da minha varanda da Costa Nova) ali encontraram nas águas lagunares um bom habitat. A sua apanha, sobretudo do berbigão, na gíria, conhecido por crico, é um cenário com que deparamos frequentemente, mesmo a partir da curva da Biarritz. Actualmente, esta captura não me tem atraído tanto, se bem que seja muito intensa (vê-se com frequência), porque as embarcações usadas já são quase sempre as modernizadas chatas, em fibra de vidro, menos atractivas para mim.
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Ali, pelo princípio do século XX, as embarcações utilizadas com tal finalidade eram, normalmente, as ditas bateiras mercantelas, a que se adaptava, à época, à proa, um instrumento chamado sarilho, de presença inconfundível, passando a chamar-se de bateiras berbigoeiras. Mas, confesso, nunca vi nenhum, a não ser em modelos ou em algumas imagens, poucas, não de grande qualidade.
Foi, sobretudo, numa miniatura do MMI, construída por Porfírio da Maia Romão, sem escala, em 1934, que memorizei bem, e, bastante mais tarde, na miniatura feita pelo Capitão Marques da Silva, à escala de 1/25, segundo plano do Museu de Marinha de José Pessegueiro Gonçalves, de 1923, que apreciei o sarilho, em pormenor.
Este era auxiliado pela cabrita ou ganchorra (em locais mais profundos), na apanha do berbigão, num processo que, pelas descrições lidas, sempre achei complicado.
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Mas, ... adiante…, não foi propriamente isto, que me fez escrevinhar.
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Noutro dia, remexendo «os meus baús», estes assuntos sempre me interessaram, encontrei umas imagens, dos anos 80, na Costa Nova, em que o berbigão era apanhado, com as ditas cabritas, mas a bordo de que embarcações? Suspense…vejamos.

Olha o belo crico. Ena tanto!

Ena!...que quantidade de crico capturado para bordo de um dóri (sobras da pesca do bacalhau, à linha…), bem nítido, onde é possível apreciar e anotar alguns pormenores.
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O CRISTINA II era um dóri já adulterado e adaptado à pesca lagunar, com coberta de proa e painel de popa para aplicação de motor fora de borda, mas que ainda evidenciava, com clareza, o tabuado trincado, que sempre ostentava e o caracterizava. Também se vislumbra a peça metálica (o bronze), onde se enfiavam as forquetas, que sustinham em rotação, a parte central dos remos. E uma bela fateixa de quatro patas e quatro unhas, sobre a coberta da proa! É nítida e mete raiva!
A referida cabrita pode apreciar-se bem na mão do pescador, constituída por uma longa vara a que se prende a travessa de um ancinho metálico, de onde sai um arco em semi-círculo, que sustém um saco de rede de cerca de um metro de comprimento, com um rabicho, no fundo, que facilita a manobra do despejo do bivalve, depois de ter sido, esforçadamente, cravado e arrastado pelo fundo da ria, suportado no ombro arrojado do pescador.

Dóri de popa cortada
Imagem extremamente explícita da captura, em que a embarcação também costumava estar fixa a duas longas e pujantes varas. A bateira caçadeira que a imagem seguinte apresenta, nessa mesma época, também se dedicava à mesma faina.
 
E agora, a bateira…
Às vezes, interrogo-me – será que eu, na Costa Nova, pelos anos 80, ainda tão jovem, não tão teria nada mais interessante que fazer do que andar a «pescar» e fotografar pescadores nas suas fainas? Claro que tinha e ia alternando. Caso contrário, também não me alegrava, agora, de encontrar estas «pequenas relíquias» de um passado recente, ao vasculhar «os meus baús».
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O que encontrarei mais? Não sei, ainda não acabou… Vamos a ver o que está dar…
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Coincidência…quando cheguei a casa tinha uma chamada de atenção para um blogue sobre a apanha do crico. Mas eu também já tinha este pensado… Postei-o. Um não invalida o outro. Completam-se. E cada um cabrita o crico a seu modo.
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Imagens – Da autora do blogue, nos anos 80
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Ílhavo, 10 de Novembro de 2013
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Ana Maria Lopes
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domingo, 3 de novembro de 2013

Uma janela para o sal - VII

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A botar a marinha a sal
- Ai marinha, és mãe e rainha: crias e divides-te em ordens...
 
- Armazenas, na tua comedoria, todo o alimento de que teu forte e extenso corpo necessita para a paridura do sal a água da laguna.
Renovas-te de águas «salinas» a cada maré viva, tanto em lua nova como em lua cheia.
Ordenas ao mandamento evaporador, a filtragem das impurezas. Dele escorrerá somente o líquido salgado, depurado, tanto quanto necessário, para o teu ventre – os cristalizadores. Aí é onde darás à luz, sob sol intenso e influência de férteis ventos, os brancos cristais que encherão canastras e barcos, não sem antes embelezarem a tua eira, com alvos e fartos «seios» de fertilidade.
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O dia da botadela está a chegar...
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- E eis que aos cuidados do homem marnoto, te entregas e te preparas para o grande momento...
Areiam-te as praias com fina camada, esburacam-te as travessas de lama dura, abrem-te e fecham-te portais, passagens de águas...
E é belo ver essas águas correrem, escorrerem, dançando por entre os teus regos, refegos, canejas e bombinhas, tubagens belo engenho do homem marnoto.
E é admirável ver esses homens que correm de um lado para o outro, em grande azáfama, conduzindo, controlando, vigiando essa enxurrada de águas férteis, de sal líquido, que vai invadindo as peças do teu reticulado corpo, ousado, mas bem pensado.

E eis que te botam a sal!
É dia de festa, é o dia da botadela na marinha – vinde convidados para a mesa!
 

Primeiro, são homens que areiam, alisam, com pá do sal esses parcéis, qual manto que irá suportar as investidas das águas, de sais impregnadas, e o vaivém dos rodos, na rapação do primeiro sal.
São essas praias areadas que protegem os brancos cristais das escuras lamas, suas camas, nas primeiras coçadelas – em breve ganharão camisa...

 
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Depois, é chegada a hora de abrir os portais à safra, à produção do oiro branco que irá alimentar as bocas das gentes que ali trabalham e dela dependem.
E é nesse momento que se valoriza um homem de saber feito, afeito ao árduo e inteligente trabalho de dirigir, conduzir e tomar o pulso da marinha, sua rainha.
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 Delicada operação, esta!
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De fenda em fenda, com precisão de cirurgião, o marnoto «sangra» a marinha, fá-la escorrer, banhar-se nas águas impregnadas de sais, conduzindo-as pelo emaranhado de encanas – ora abre, ora fecha, com a pá do tabuleiro, esses portais, até a botar a sal.
 
 
O marnoto é homem de arte, a da salinagem. Torna-se, assim, ágil nos movimentos e rápido nas decisões. Executa com precisão tarefas das quais dependerá o bom resultado da safra.
E é vê-lo correr por cima de barachas e machos.
Habilmente abre tabuleiros, mandamentos, arria águas e deixa-as sabiamente serpentear pela marinha. Saem da ria para a comedoria, conduzidas, pelo natural desnível, por uma encruzilhada de tubagens, de regos e de canejas, por aberturas feitas a preceito. Percorrem o mandamento e nas andainas, abastecem os alimentadores e cristalizadores, chegando na quantidade exacta, com a densidade certa.
E eis que as águas concentradas penetram, encharcam, atravessam e alastram pelos meios areados, descendo da marinha nova para a marinha velha.
É dia de alegria! Ao fim de um árduo trabalho de preparação, a marinha enche-se de encanto e de vida, torna-se fértil, tal como uma mãe que prepara o seu rebento.



 
Chegou a hora de os convivas confraternizarem e comemorarem: é a festa, é a botadela!
São família, são amigos, são vizinhos, são moços, são marnotos…ali estão todos os que sentem o sabor do sal.
E é nesta mesa, no malhadal, posta à sombra do palheiro, que decorre a festa de comes e bebes. É neste momento que esta gente repousa, depois da exaustão, mas não por muito tempo...
E é o palheiro a casa protectora do marnoto e seus moços, tanto em dias de forte canícula como de nortada. E, todo ele é humilde – de chão térreo, outrora coberto a bajunça e de madeira construído.
Mas foi, e sempre será, o porto de abrigo para homens e alfaias – este, vaidoso, até nome tem! – BRANCA CARABELA.
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Nota – Para esclarecimento de linguagem técnica, consultar GLOSSÁRIO de Diamantino Dias.
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Imagens | Paulo Godinho | Anos 80
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09 | 07 | 2013
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Texto | Etelvina Almeida |Ana Maria Lopes
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