Limpeza
de lamas e moliços
É o início do árduo
sustento desta gente, que vive do salgado labutar entre a ria e o mar.
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No seu pequeno
mundo de contrastes entre o negro e o branco, a marinha renasce do espelhado
alagado e desperta de uma longa entressafra,
para a safra,
no meio de grande azáfama.
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Com as marinhas alagadas por processo natural
ou «por mãos criminosas», após os rigores da invernia, a safra começa entre Abril e Maio, quando a mãe-natureza providencia.
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Para o marnoto, são meses de «negro sal» de
calor e de frio, do escuro azul das águas, do verde amarelecido das algas e
moliços, do negro das lamas escorregadias...
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Nestes trabalhos preparatórios, homens,
mulheres, rapazes e raparigas, em família ou em contrato, trabalham em prol de um sustento comum.
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Desses pequenos «cristais brancos»,
que temperam, à mesa, depende o alimento de marnotos,
moços, barqueiros, armazenistas e comerciantes – esse sal, que é condimento para todo o alimento e alimento para a
todas as bocas.
Moços
ainda, tenros rapazes filhos de pai marnoto,
aprendem e sentem o tempero do sal e o ardor do sol nesse corpo imaculado,
antes de serem homens.
Ágeis, mas já fortes, acarretam
verdes e negros restos de algas e de lamas, nas suas canastras de sonhos, sobre rodilhas
de anelos que ainda pairam sobre as suas cabeças inocentes.
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Percorrem, correm e
jogam no equilíbrio de seus corpos leves e lestos, o jogo dos «tabuleiros»,
como sói chamar-se-lhes, por finos e
grossos liames, das barachinhas aos machos.
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Marnotos e moços descascam, ressecam, remexem, estrangem com pá cova e com forquilha,
bimbam as beiras e acarretam da marinha
os restos da entressafra, que no
alagamento ficaram e se criaram – são algas, são moliços, são negras lamas.
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Entre a marinha velha e a marinha nova, velhos e experientes marnotos ensinam os moços
novatos a estranger os meios, a
recuperar muros e barachas, a tirar o entraval,
limpando-o das lamas, que acarretadas para montes, ressecam ao sol... para
futuros consertos.
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Imagens | Paulo Godinho | Anos 80
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21
| 05 | 2013
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Texto
| Etelvina Almeida |Ana Maria Lopes
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Com a vaga de calor que nos visitou nestes últimos dias, nada melhor do que o sal para restaurar as nossas forças.
ResponderEliminarParabéns às "marnotas"!
Continuem a transmitir aos mais novos os vossos amplos saberes da nossa ria.