segunda-feira, 17 de junho de 2013

Intervenção dos AMI, no Barco de S. Pedro


Barco tosco, desproporcionado, mas com sabor arcaizante e sacro, com apóstolos hirsutos, gigantes, para a embarcação, quase talhados a naifinha, de uma policromia enegrecida – em tons de azul e vermelho escuros, com vestígios de pequenos motivos a ouro, próprios de arte sacra, dono de uma beleza sui generis – é assim o Barco de S. Pedro.
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Parece-nos que terá mais de um século. De princípios do século XX ou finais do século XIX, não há dados rigorosos.
Em madeira de tom acastanhado, tem o costado decorado com florões geometrizados, ricos em pormenores e apresenta nos dois bordos, também policromada, a cor de mel, num fundo mais escurecido, uma inscrição que reza VIVA A COMPANHA DOS LUIZES.
 
A contento de todos, esta peça foi depositada no MMI, no dia 22 de Outubro de 2011, após intervenção simples e sentida do senhor Dr. Pires da Rosa, que O Ilhavense de primeiro de Novembro de 2011 transcreveu na íntegra.
 
Aguardamos a sua doação ao museu, a título definitivo, sempre respeitando que o mesmo esteja exposto, com a indicação expressa da proveniência – Família de Tenente Alberto da Maia Mendonça e esposa, Maria Casimira Gomes da Cunha.
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Cumpriu-se, assim, uma vontade expressa pelo Dr. Rocha Madahil, em 1933, primeiro Director do Museu, e do Sr. Américo Teles, grande impulsionador da criação do mesmo.
Mas, o tempo vai passando e fruto dos anos, de algumas limpezas, mais domésticas e de alguns solavancos nas procissões onde foi inserido, o «nosso barquinho» precisava de algum restauro – primeiro, interior, a nível de madeiras – e, mais tarde, exterior, a nível do lacado policromado.
 
 


Os Amigos do Museu tinham ficado encarregados, a gosto, de tal trabalho.

Cuidadosamente retirado para as reservas do museu, durante uns dias, as hábeis mãos dos Senhores Capitães Marques da Silva e Francisco Paião efectuaram o trabalho em questão.

Os apóstolos «desmaiavam» com facilidade, pois os pinos que os prendiam estavam partidos, tinham alguns pés fracturados, das quedas, alguns bancos, em que se sentavam, estavam descaídos. Como as mãos, em forma de concha, para suster os punhos dos longos remos, o não faziam, por falta de espaço da vitrina, para calibrar os remadores, foram-lhes apoiados os pés em estribeiras (aliás, como era), dando-lhes uma posição bastante mais firme, para enfrentar os arremessos das vagas. Os remos também sofreram um ligeiro conserto, nas pás e punhos e a rede foi desensarilhada e arejada, para poder tomar, na embarcação, a posição devida, assim como os cabos. Do restauro da embarcação, fez o Sr. Capitão Marques da Silva, uma nota da intervenção pelos «dois artífices». Numa fase seguinte, será dado o brilho que merece ao exterior da peça, neste caso, entregue a técnico superior do Museu de Aveiro ou aos cuidados da Fundação Ricardo Espírito Santo, conforme conveniências e vantagens, a estudar.


 

E assim voltou ao lugar que ocupava na Sala dos Mares, do MMI.

Fotos – Gentil cedência do Capitão Francisco Paião

Ílhavo, 17 de Junho de 2013

Ana Maria Lopes
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1 comentário:

  1. Tenho sérias duvidas se os antigos barcos do mar tinham só aqueles grandes remos que conheci nos anos 50 ou se eram manobrados cerca de 6 remos ou mais como ainda se usava no inicio do sec XX na Caparica. Neste e num ex-voto em cortiça,que existe no Alentejo e dos pescadores de Sto André, dispõem os santos/pescadores como se fossem utilizados vários remos... Tb sabemos que nas suas colonizações os Ilhavos usavam muitas vezes lavradores e possivelmente seria mais facil usar a cada remo poucos remadores... Aqui fica a duvida...

    Antonio Angeja

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