O
Rainha Santa, um dos últimos navios-motores
a ser construído nos estaleiros do Mestre Benjamim Bolais Mónica, na Gafanha da
Nazaré, para a firma Pascoal & Filhos, Lda., foi lançado à água no dia 15
de Março de 1961.
O
navio, construído em madeira, tinha capacidade para 14 000 quintais de peixe.
O
bota-abaixo aconteceu segundo os procedimentos habituais, mas já com bastante
menos fulgor.
Embandeirado em arco…
Características – Comprimento,
entre perpendiculares, 48, 91 metros, 10,47 de boca e 5, 35 de pontal. A
arqueação bruta era de 829, 61 toneladas e a líquida, de 435, 33.
Albergava
21 tripulantes e 59 pescadores.
Foram
seus comandantes, João Fernandes Parracho (o Capitão Vitorino), de 1961 a 1965, João José da Silva Costa (o Capitão Costinha), de 1966 a 1972 e António
Tomé da Rocha Santos (o Capitão Tomèzinho), de 1973 até à data do incêndio.
Naquele
período, a vida era bastante intensa no porto bacalhoeiro da Gafanha da Nazaré
e, sempre que tocava a sirene, em Ílhavo, e constava que o incêndio era a bordo
ou em alguma seca, uma tal correria despontava para lá, com interesse na
observação do acidente.
Foi
o que aconteceu no dia 25 de Fevereiro
de 1974. Sireeeeene…toque de fogo!!!!!!!!!!! Incêndio no Rainha Santa! E numa debandada, muita
gente acudia, num misto de curiosidade e pavor.
Incêndio a bordo…
Um
grande incêndio deflagrou a bordo, devido a curto-circuito na casa das máquinas
– era notório. Colossal azáfama – bombeiros das corporações de Aveiro e de
Ílhavo, assistentes, curiosos – um corrupio.
Segundo
informação colhida no momento, o navio, dificilmente poderia ser recuperado
para a pesca e, sobretudo, para a campanha próxima, para a qual se preparava.
Milhares de contos de prejuízo.
À
época, não foi muito badalado o destino do navio. Abandonado no cais durante
uns tempos, esteve perto de ser desmantelado, mas acabou por ser procurado por
um empresário de Avanca, segundo informação colhida na zona, Sr. José Resende,
que o adquiriu à empresa proprietária com a intenção de o preservar. Projectos
destes nunca foram acessíveis.
Ei-lo, na Torreira…
Nos
primeiros tempos, muitos milhares de pessoas acorriam para o visitar e o
negócio lá se ia mantendo. No entanto, não teve a melhor sorte, o navio – foi
adornando, a procura dos seus serviços foi diminuindo, os lucros também não
teriam coberto as avultadas despesas, até que, em 1989, um pequeno incêndio na cozinha do restaurante quase ditara o
seu fim.
O
proprietário decidiu recuperá-lo, mas perdeu o fascínio que, outrora, tivera.
Uns
meses mais tarde, cerca de 1990, um
intenso clarão iluminou num fulgor as resplandecentes e calmas águas da ria e
acabou por fazer desparecer o navio branco, no lugar do Monte Branco.
Ainda
hoje, uns resquícios de estacaria carcomida e carunchosa foram falados e
serviram de referência à colocação das bóias, por ocasião da última regata de moliceiros, nas festas do S. Paio.
Entre uma clareira, ao longe, o Rainha Santa
Na
última imagem, em 1985, quando, à
época, observava e fotografava o concurso de painéis de moliceiros, na festa do S. Paio, lá se avistava entre uma clareira
de barcos, o Rainha Santa. Saltou-me
de novo aos olhos, quando, mais uma vez, folheava Moliceiros – A Memória da Ria (2ª edição), p. 201, foto 157.
Imagens do
arquivo pessoal da autora do blogue.
Costa Nova,
25 de Abril de 2013
Ana Maria Lopes
-