Conseguir,
parcialmente, uma ida ao mar, em
imagens, na Costa Nova, no final dos anos 40, não é, propriamente, fácil. Não é
só farfalho, nem sorte. É preciso
andar na esteira. Acontece a quem
procura.
Teria
os meus 7 anos e era visita assídua das companhas.
O meu avô já deixara a longínqua e perigosa pesca do bacalhau para acompanhar e
apaparicar a neta querida.
Mais
tarde, renovei as minhas visitas, pois estes assuntos sempre me interessaram,
por razões óbvias.
O
barco da Costa Nova, de 4 remos bem cruzados,
altivo e pujante, espera a hora da maré. No areal, a bombordo, redes e outros aprestos que os homens ultimam. Uma junta
de cornígeros animais passa lentamente – a tal ruralização do litoral que encantou Unamuno.
Por
ordem, todos os aprestos ocupam o lugar próprio na embarcação, – a manga de retorno, o saco que volteia a ré, a primeira
manga e os cabos enrolados e acamados ordenadamente, à ré e mais a vante. A
companha de bordo ocupa o lugar no
barco e a de terra coopera. Poucos mirones. Meia dúzia de homens, no mar, de
calça arregaçada, aguenta as varas,
sobre as quais os rolos e o barco
deslizam. À proa, o vareiro, em pé,
vigia e ordena.
Arrais, sempre atento,
à ré. Reçoeiro em terra. Momento de
perigo. Os bois puxam o barco para a beirada do mar, a muleta, à ré, orienta. Após as três vagas sucessivas, o mar amolece
(a mesma técnica para a entrada no banho, em tempos idos).
A
esbelta embarcação bate no cavado da onda, que chapisca. Os remos equilibram. Mar chão e imenso. Mais imenso, ainda, o céu! A emoção é grande! É agora!!!
Agora!!!
Um
dos perigos foi ultrapassado. Já flutua. Uma segunda vaga é alcançada e superada
com sofreguidão, evitando o atravessamento do barco de que poderia resultar o
maior desastre.
Que
siga em nome de Deus!!!
O
pessoal afasta-se e juntas de bois fogem, assustadas pelo bater do mar, em
forte correria, pelo declive do areal acima.
(Cont.)
Ílhavo,
10 de Março de 2013
Ana Maria Lopes
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Lá lhe "roubei"mais 3 fotografias,que me refazem a juventude...Excelente texto,claro...Cumprimentos,"kyaskyas"
ResponderEliminarEstá autorizado. Acredito. Obrigada.
ResponderEliminarCumprimentos.
Imagens e texto precioso.
ResponderEliminarUma ida ao mar, contada na 1ªpessoa, por quem viu e se interessou, desde menina, por esta faina.
Obrigada Ana Maria pela partilha destas belas e ilustradas recordações, que nos trazem um pouco de história da nossa região.
Obrigado. Gostei muito. Sou da Costa Nova mas ja estou quase a 20 anos na Suiça. E ler assim o texto é das melhores coisa... Mais uma vez obrigado e continue assim.
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