-
Ontem, domingo, a regata do S. Paio – 2012 não teve o brilho que tem tido nos derradeiros anos. Tudo se conjugou.
Barcos moliceiros de tamanho vernáculo, apenas se apresentaram oito, mais algumas amostras.
O tempo não ajudou e não saiu de um cinzentismo que envolveu o ambiente, sem grandes emoções e pouco vento.
O júri do concurso de painéis não esperou pelos moliceiros da zona sul (Costa Nova), que eram três, o Marnoto, Pardilhoense e o Inobador, a que uma neblina cerrada atrasou o andamento. Resultado – não assistimos.
A moldura humana não tinha o mesmo fervor do dia anterior.
Pairava no ar um forte pressentimento de que o moliceiro está a morrer de uma morte anunciada e velozmente concretizada. Será reversível? Parece-nos que não, apesar do empenho destes três, que vão animando a ria, frente à Costa Nova.
Passará, em breve, a sobreviver apenas como barco de museu, o moliceiro, e através dos registos escritos e videográficos que têm sido feitos sobre ele. Oxalá nos enganemos, mas os tempos não estão fáceis para nada.
A meio da regata, quando os lugares já quase pareciam estar definidos, eis que um estrondo seco nos assusta, já que seguíamos de perto a competição, em bateira, para melhor a fotografar e apreciar.
O que terá sido? O sonho do Zé Rito, homem multifacetado da ria, aguerrido e vencedor das últimas competições lagunares – regata de moliceiros, no Bico da Murtosa, regata de bateiras à vela e de chinchorros, ambas no dia anterior, na Torreira, esfumara-se. O esbelto e rijo mastro estalara, quebrara, ribombara, arrastando a grande vela, brandais e todos os outros aprestos necessários ao seu funcionamento. Nada de acidentes pessoais, apenas a aspiração ao prémio da regata maior, desfeita. Para o ano há mais… Haverá?
Sequência de imagens:
1.
2.
3.
Os auxílios foram rápidos e o Zé Rito, descoroçoado, rumou ao seu estaleiro, à borda d’ água. Substituir o mastro quebrado está nas suas mãos habilidosas de Mestre, apesar do trabalho e despesas.
A classificação final foi:
1º - Dos Netos – Arrais /Ti Abílio «Carteirista»
2º - Manuel Silva – Arrais/Zé Pedro
3º - A. Rendeiro – Arrais/Ti Zé Rebeço
4º - Pardilhoense – Arrais/Marco
5º - Inobador – Arrais/ Pedro Paião
Teve azar o avô Rito, mas ganhou o 2º prémio o neto, o Zé Pedro, de 12 anos, a lemar o Manuel Silva. Filho de peixe sabe nadar – diz o povo e com razão.
Felicitações aos vencedores e ânimo para enfrentarem as dificuldades e contribuírem com garra para a manutenção da tradição.
O sábado anterior da romaria, com programa muito intenso a que também assistimos e de que nos havemos de ocupar foi bem mais alegre, divertido, entusiasmante e sonhador.
Imagens – 1.Paulo Miguel Godinho, 2. Etelvina Almeida e 3. AML
Ílhavo, 10 de Setembro de 2012
Ana Maria Lopes
-
Normalmente diz-se "No melhor pano cai a nódoa", mas neste caso é mais "No melhor mastro cai o pano". A fotografia 1 é daquelas que só se consegue com uma tremenda sorte, de apontar para o sítio certo, na hora certa e carregar no botão na altura certa. Tendo em conta que a máquina utilizada demora cerca de 1 segundo a disparar, não deixa de ser curioso que o botão de disparo foi accionado antes do "incidente" ocorrer.
ResponderEliminarO meu pressentimento não é tão pessimista quanto o manifestado pela autora, até porque basta ver que, nos tempos conturbados que atravessamos, a quantidade de pescadores artesanais tem aumentado na ria de Aveiro. Pode ser que também apareçam mais moliceiros genuínos (homens e barcos, bem entendido), já que o moliço continua a ser o melhor sustento das "plantações na areia" e é provável que a sua procura aumente, na proporção directa do aumento previsível no número de agricultores artesanais da região. Por isso, diria: Viveiros de moliço precisam-se…
E mesmo com o tempo cinzento, o espectáculo é sempre inesquecível. Bravura e elegância misturam-se de maneira certamente muito rara, em qualquer parte do mundo.