Um navio que passa por estas tormentas ainda em seco estará condenado a não durar muito.
E foi o que aconteceu.
Quando, em Lisboa, foi sujeito a doca seca, verificou-se estarem erradas as marcações dos seus calados, indicando menores imersões, acusando diferenças na proa e na popa.
Ora, esta lamentável circunstância ocasionou, no processo de desencalhe, esforços, contrariedades e preocupações que não teriam existido, se as marcações estivessem correctas.
O navio foi entretanto adquirido pela Empresa Comercial & Industrial de Pesca (Pescal), de Lisboa.
O Maria das Flores, já no activo
E, embora com ligeiro atraso, ainda participou na campanha de 1946. Refere-nos o Jornal do Pescador nº 91 que no dia 15 de Junho largou o Tejo, com destino à Groenlândia, o novo lugre bacalhoeiro Maria das Flores, não sem antes ter proporcionado, no dia 11, um passeio no rio a diversas autoridades navais e aos dirigentes corporativos da pesca, para festejar o desfecho feliz do desencalhe do navio, na Ria de Aveiro, num tempo record.
Manteve-se sob o comando de Manuel P. Teles, desde o bota-baixo, em 1946, até à campanha de 1954, ano em que foi substituído pelo também nosso conterrâneo Manuel de Oliveira Vidal Júnior.
Teve uma existência mais ou menos normal.
Outro aspecto do mesmo navio
Pelo ano de 1958, já haviam naufragado quatro navios da frota bacalhoeira, quando comunicação feita pelo GANPB, deu o navio como perdido, no dia 18 de Setembro, com água aberta, no banco Eastern Shoals (Terra Nova), tendo completado o carregamento, pelo que deveria regressar a Portugal.
Não resistindo aos ciclones que sopraram por aquelas paragens, deu baixa ao número de navios utilizados naquela faina.
A tripulação salvou-se, tendo sido recolhida pelo navio/motor Lousado da mesma empresa.
E assim termina a saga do Maria das Flores que ficou na história marítima, pelo invulgar e engenhoso processo de desencalhe, junto ao estaleiro do Bico da Murtosa, onde fora construído em 1946, sem acesso a águas com boas condições de navegabilidade.
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Imagens gentilmente cedidas pelo Comandante António Bento, a quem muito agradeço.
Ílhavo, 23 de Maio de 2011
Ana Maria Lopes
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Boa tarde.
ResponderEliminarNestas fotos raras que foi publicando apercebi-me que o desenho deste navio terá evoluido nos anos seguintes a 1946 para os futuros navios-motor como o "Novos Mares", "Ilhavense", "São Jorge", etc.
Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt
Segui atentamente os episódios narrados com mestria e entusiasmo pela Dra. Ana Maria, como se os estivesse a viver.
ResponderEliminarObrigado e parabéns por não deixar no esquecimento factos tão importantes e marcantes da epopeia do bacalhau.
Oliveira Martins
Cara amiga,
ResponderEliminarConfesso-me surpreendido pela magreza de comentários, face à excelência da pesquisa publicada.
Que isso não a impeça de continuar a "postar" histórias dos navios da pesca, dos seus casos, das histórias e da gente do mar, que mais do que nunca merecem o elogio e a lembrança, pelo que deram de si mesmos a Ílhavo e ao país.
Cumprimentos,
Reinaldo Delgado
Cara amiga,
ResponderEliminarConfesso-me surpreendido pela magreza de comentários, face à excelência da pesquisa publicada, considerando que este caso e outros são retratos dum quotidiano, que a história da pesca justifica dar a conhecer e recordar.
Quero por isso felicitá-la, pedindo-lhe para continuar a desbravar factos de grande valor histórico, cujo conteúdo servirá para cada vez mais valorizar e manter acesa a chama, da grande epopeia da pesca do bacalhau.
Cumprimentos,
Reinaldo Delgado