Servia para mudar gado ou carrear estrume, transportava pessoal, ervas e apanhava moliço.
Embarcação de trabalho, chegou a deslocar-se até à feira dos treze, na Vista Alegre, ao canal de S. Roque para compra de sal e não faltava aos arraiais das festas setembrinas. Podia ter ou não leme, embora para ele estivesse preparada, falcas e vela. Com estes apetrechos se deslocava anualmente à romaria do S. Paio, servindo de abrigo aos seus donos, e proporcionando-lhes uns dias de reinação e de folguedo.
Bateira erveira no S. Paio de 1993
O que sempre tinha e que a distinguia das demais bateiras, eram quatro golfiões, bem salientes, dois à proa e dois à ré. Nos esteiros acanhados da região e, sobretudo, quando transportava gado, era deslocada, por terra, da margem, por duas pessoas, com o auxílio de duas varas, que “beiçavam” firmemente nos golfiões.
Em pesquisas, nos anos 80, pela ria, e sempre sequiosa de informações, soube que ainda poderia conhecer o mestre-construtor destas embarcações. Lá fui até casa dele em Canelas, o ti Arnaldo Domingues Rodrigues Pires (1921 – 1997), que, amavelmente, me mostrou o local, onde construía, à época, pequenas caçadeiras e os antigos moldes da última bateira erveira de Salreu, por ele construída em 1964. Orgulhava-se da obra.
Também tinha trabalhado com os Mestres Luciano e Manuel Maria Garrido, durante 31 anos, sobre os quais me confessou não serem dos mais hábeis na construção de barcos moliceiros.
Em Outubro de 1994, a referida embarcação foi adquirida pela Associação dos Amigos do Museu ao próprio dono, Sr. José Luciano de Andrade, conhecido pelo Ti Zé da Fonte.
Foi o próprio Ti Arnaldo quem ofereceu ao Museu os seus moldes, que lhe serviam de suporte à construção e que podem aí ser identificados com as respectivas partes da embarcação.
Antiga Sala da Ria – 1995
(Cont.)
Ílhavo, 14 de Janeiro de 2011
Ana Maria Lopes
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Boa tarde.
ResponderEliminarE a continuação deste seu artigo volta a transmitir esse tempo em que barcos e pessoas se uniam em vidas mais ou menos difíceis mas verdadeiras e sem as muitas "loucuras" de hoje. Hoje temos as loucuras e constante correria, mas os barcos, seus "fazedores" e utilizadores... foram-se. Com eles foi-se um grande pedaço de muitos de nós. Terras da costa ou terras do interior, não há diferença. Foi-se quase tudo.
Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt
No início da década de sessenta do séc.XX ainda existia em Canelas um outro construtor de bateiras e de caçadeiras de nome Beirão e que morava na Rua da Estação, nas proximidades da EN 109. Terá falecido em meados ou finais dessa década.
ResponderEliminarFoi com imenso agrado que cheguei ao seu blog, através do Sem Rumo, e li esta preciosidade sobre a Bateira Erveira de Canelas, tema que me é muito familiar. Esta bateira pertencia à minha família, era propriedade do Ti Manel da Fonte meu avô, sendo o Zé da Fonte um dos filhos, e meu tio. É evidente que sempre que se fala da Bateira a emoção vem à flor da pele, e este apontamento por si feito é exemplar, por curiosidade os meninos que se encontarm na ria a tomar banho são bisnetos do Ti Manel da Fonte, o Tiago e a Joana, foi surpreemdente pois não temos esta fotografia.
ResponderEliminarFoi muito bom voltar a recordar tudo isto.
CPTS