De frente para nós, um friso de “mulheres”, em elegante jeito de tricana moderna, cabelo descoberto, luzidio e arrepiado no seu totó, bem aninhado. Xailes pretos, de malha de seda e franja alta, delineavam-lhes o busto. E o sapato apitorrado de tacão médio elevava-lhes a figura. Ao lado, um gentleman, de fato, camisa e chapéu de feltro, espreitava a cena, trilhando artisticamente entre os dedos a prisca do cigarro, qual galã de cinema.
E o painel expositivo continua.
Aqui, a diversidade da oferta é estonteante: jarros, bacias, baldes, penicos, panelas, tachos, cafeteiras, chocolateiras, leiteiras, malgas, pratos, de alumínio ou esmalte.
E as considerações sobre o trajar não mais teriam fim – lenços na cabeça, sob o chapéu, uns caídos a envolvê-la, de pontas amarradas à frente, outros, cruzados atrás, e de pontas soltas sobre o colo, outros, trespassados sob o queixo e de nó cego atrás, e ainda outros cruzados atrás e pontas torcidas e amarradas no cocuruto da cabeça.
Também as saias rodadas, pelo meio da perna, encilhadas pela faixa, compunham o “ramalhete”.
Esta passerelle era um testemunho de hábitos e costumes de classes sociais diferentes, desde o povo de pé descalço, actuante, até à senhora de média burguesia, espectadora.
Cansada, mas deleitada, de tanto observar e descrever. O leitor arguto que conclua, descobrindo, porventura, mais alguns pormenores interessantes.
Fiz, com gosto, esta romagem à Feira dos Treze, num qualquer mês de 1935.
Imagens cedidas, gentilmente, por pessoa amiga
Ílhavo, 19 de Abril de 2010
Ana Maria Lopes
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