segunda-feira, 19 de abril de 2010

Feira dos Treze na Vista Alegre - II




E o movimento da feira prossegue…


E o fatico a escolher...

É só escolher! – ecoava o pregão da vendedeira. E os interessados lá se agachavam à procura da peça ideal, no fatico amontoado. Era costume mandar vender à feira as peças de roupa de que desgostávamos.
De frente para nós, um friso de “mulheres”, em elegante jeito de tricana moderna, cabelo descoberto, luzidio e arrepiado no seu totó, bem aninhado. Xailes pretos, de malha de seda e franja alta, delineavam-lhes o busto. E o sapato apitorrado de tacão médio elevava-lhes a figura. Ao lado, um gentleman, de fato, camisa e chapéu de feltro, espreitava a cena, trilhando artisticamente entre os dedos a prisca do cigarro, qual galã de cinema.


Mas…e a rodilha multicolor e o chapeuzinho vindo da Gândara, tão característico também da mulher de Ílhavo, redondo, tipo queijo da serra, com pequena aba colada à copa, contornada por fita de veludo, com laço abatido e pequeno penacho?
E o painel expositivo continua.

A latoaria…


Aqui, a diversidade da oferta é estonteante: jarros, bacias, baldes, penicos, panelas, tachos, cafeteiras, chocolateiras, leiteiras, malgas, pratos, de alumínio ou esmalte.
E as considerações sobre o trajar não mais teriam fim – lenços na cabeça, sob o chapéu, uns caídos a envolvê-la, de pontas amarradas à frente, outros, cruzados atrás, e de pontas soltas sobre o colo, outros, trespassados sob o queixo e de nó cego atrás, e ainda outros cruzados atrás e pontas torcidas e amarradas no cocuruto da cabeça.

Também as saias rodadas, pelo meio da perna, encilhadas pela faixa, compunham o “ramalhete”.

Esta passerelle era um testemunho de hábitos e costumes de classes sociais diferentes, desde o povo de pé descalço, actuante, até à senhora de média burguesia, espectadora.

Cansada, mas deleitada, de tanto observar e descrever. O leitor arguto que conclua, descobrindo, porventura, mais alguns pormenores interessantes.
Fiz, com gosto, esta romagem à Feira dos Treze, num qualquer mês de 1935.

Imagens cedidas, gentilmente, por pessoa amiga

Ílhavo, 19 de Abril de 2010

Ana Maria Lopes

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