domingo, 29 de março de 2009

As "viagens" do Avô Pisco - I



Andava há imenso tempo a tentar reconstituir o curriculum marítimo de Manuel Simões da Barbeira (Capitão Pisco), meu Avô (1885 – 1953), mas, dos primeiros anos, não sabia praticamente nada. Ainda ninguém me tinha conseguido ajudar a preencher as lacunas que eu tinha. Quem espera sempre alcança. Parece que chegou a ocasião agora, graças ao precioso trabalho de pesquisa levado a efeito pelo amigo Reimar e ao apoio que me deu.

O Avô Pisco comandou o iate Mondego, com 23 anos, de 1908 a 1911.

O iate Mondego (1908 – 1917) foi construído em Setúbal, com o nome de Novo Flôr em 1899. A partir de 1908, passou a chamar-se Mondego, na Sociedade Pescarias Foz do Mondego e, posteriormente, ainda usou os nomes Nazareth e Apollo, passando por mais empresas.
Com um comprimento de cerca de 31 metros, 8,06 m. de boca e 3,17 m. de pontal, acolhia uma tripulação de 24 homens.

O iate Mondego, in Ilustração Portuguesa


Naufragou durante a viagem dos bancos da Terra Nova para Aveiro, em 1924.

1912 e 1913 – Comandou o lugre Golphinho, da Figueira da Foz.


Lugre Golphinho


1914 – Naufragou no Golphinho, tendo perdido o navio, por colisão com uma ilha de gelo – assunto já divulgado neste blog.


1915 a 1917 – Comandou o lugre-escuna Figueira.

O lugre-escuna Figueira foi construído em Inglaterra em 1904, tendo sido o ex-Becca and Mary, até 1913 e, então registado, na Figueira da Foz.
Com o comprimento de 32, 34 metros, 7 metros de boca e 3,40 m. de pontal, não tinha motor auxiliar. Além de Manoel Simões da Barbeira, nele embarcaram também os seguintes capitães: João dos Santos Redondo (1913 e 1914), Manoel Carlos Fingre (1918) e Amandio Fernandes Mathias (1919).
Foi vendido ao capitão de Ílhavo, António José dos Santos, tendo sido registado em Aveiro, passando a ser o Alcion, em 1920.
Na campanha de 1945, propriedade da Empresa Comercial & Industrial de Pesca “Pescal”, passou a denominar-se Lousado. Naufragou, com água aberta, em 1953, no Virgin Rocks.

1918 – Capitaneou o lugre Voador, da Figueira da Foz.

O lugre de madeira Voador construído em Fão, por António Dias dos Santos, para a Sociedade de Pesca Oceano, da Figueira da Foz, foi lançado à água em 26.9.1911. A Gazeta da Figueira de 26 de Outubro de 1912 refere que, a reboque do vapor Liberal, entrou a barra da Figueira, em Outubro, o lugre Voador. Apesar de construído em Esposende, este navio veio em casco e os últimos acabamentos, incluindo os mastros, teriam sido feitos na Figueira.

Com um comprimento entre perpendiculares de 40, 53 metros, boca de 9, 18 m. e pontal de 3,87 m., não tinha motor auxiliar e albergava 19 tripulantes.

Efectuou a última campanha em 1930.

Lugre Voador


Esta foi uma das fotografias, relíquia do passado, que juntamente com a do Golfinho ornamentavam as paredes de uma das recoletas da casa de praia que foi dos meus avós, na Costa-Nova, demolidas em 1991.

Adquirido o supra-citado navio, na campanha de 1934, pela firma Ribaus & Vilarinho, Lda., da Gafanha da Nazaré, viria a ser o Navegante Segundo, até 1949, ano em que naufragou com água aberta, no Virgin Rocks.

1919 – Foi o segundo capitão do lugre-patacho Gazela Primeiro.


Aos ilhavenses que capitanearam este emblemático lugre, já foi dedicado um post, neste blog.

Gazela Primeiro - F.Baier


1920 – Não foi possível, até à data, localizar em que navio prestou serviço, ou, se, porventura, ficou em terra, o que não creio muito.

(Cont.)

Fotografias – Arquivo pessoal da autora, com a colaboração de vários Amigos

Ílhavo, 29 de Março de 2009

Ana Maria Lopes
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4 comentários:

  1. Cara amiga,
    Fico-lhe muito grato por partilhar connosco a história de um navegador, que como sabemos foi uma figura brilhante e notável, nos muitos anos em que marcou presença na pesca do bacalhau.
    Quem sabe há ainda facetas por descobrir, como aquela conhecida e discutida mais recentemente.
    Numa palavra, excelente...
    Reimar

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  2. Bom dia.

    Realmente uma carreira que para já pela primeira parte apresentada, esteve repleta de navios.
    As fotos são belíssimas e raras. Muitas pessoas tiveram nos seus avós figuras inesquecíveis e a Drª comprova pelo seu artigo a importância do seu avô nas suas memórias.

    Atentamente.
    www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt

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  3. Não há dúvida que alguns dos nossos antepassados viveram aventuras inimagináveis. Eram verdadeiros heróis e teriam muitas histórias fantásticas para contar. Hoje em dia, já não há heróis como eles. A não ser que possamos ser considerados heróis quando lutamos contra a maré do nosso dia-a-dia para reviver e perpetuar as nossas origens, utilizando e renovando o conhecimento que está no nosso sangue.

    Fazemos os possíveis:
    - Família activa na Costa Nova - Ago2008
    - De pequenino... Leça da Palmeira - Dez2008

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  4. Memórias fascinantes de grandes marinheiros e navios e navegações respectivas...

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