quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Iate "ADELAIDE COSTA"



O desejo de escrevinhar um post tem as origens mais diversas: um afecto forte por um assunto, uma paixão incontida por alguns lugres, a memória agradável de um evento, a observação de uma cena marítima emocionante, uma “dica” de um amigo… e assim vão nascendo, qual o desenovelar de fio de lã. E uma boa arca cheia de fotografias antigas? Que emoção! … E um espólio que nos é facultado! …Que sensação e que expectativa!!! A ligação à água, mar e ria, é, no meu caso, imprescindível.

Há uns meses, passei um feriado inteirinho, num sótão, a coscuvilhar caixas de fotografias, mais ou menos antigas. Alto lá, uma elegante embarcação, uma fotografia antiga, montada em cartão, que concluí ser uma raridade, chamou-me a atenção. A falta de identificação, por vezes, desmotiva-me. Mas com o auxílio da lente de bordo do meu Avô, enxerguei bem: ADELAIDE COSTA.Tenho colaboradores amigos, que, por vezes, me ajudam a montar o puzzle. Quando completo, é gratificante.
Nunca tinha ouvido falar do Adelaide Costa. Aí vai a história, para quem como eu, não a sabia:




O iate ADELAIDE COSTA

O Adelaide Costa foi um iate de cabotagem com registo no Porto que navegou entre 1902 e 1912.
Foi seu armador José Soares da Costa, do Porto (julgo tenha sido proprietário de pelo menos 12 navios tais como barcas, lugres, palhabotes e iates), supostamente um dos mais importantes do Porto, ligados ao comércio, entre finais do séc. XIX a princípios do séc. XX).

Construído por José Martins de Araújo Júnior, de Vila do Conde, foi lançado à água em 18 de Agosto de 1902. Tinha uma tonelagem bruta de 128,41 toneladas. E líquida de121,99.
Foi vendido em 1910 a José Joaquim Gouveia, também da praça do Porto, que ai conservou o registo. Mudou o nome para Oceano.
Naufragou à entrada do porto de Leixões, devido a escassez de vento e agitação de mar em 9 de Janeiro de 1912.
Relato do naufrágio:

Ao tentar entrar em Leixões pelas 14 horas, com pouco vento, foi impelido por vagas alterosas, caindo sobre os blocos próximos ao cabeço do Molhe Sul, ficando muito danificado. A tripulação procurou aguentar a crítica situação, lançando mão a pedaços da embarcação enquanto aguardava auxílio de terra. Acorreram os rebocadores "Luzitania" da casa Burmester e o "Águia" da firma J.A. Andresen, que se encontravam em Leixões, além de outras embarcações e barcos salva-vidas. Os dois rebocadores, em conjunto com os salva-vidas"Leça" e "Leixões", operaram com bravura, conseguindo salvar cinco tripulantes, dos oito que se encontravam a bordo. O Oceano procedia de Portimão com um carregamento de figos, tremoços e polvo. Infelizmente não tinha seguro, pelo que o armador, com a perda do iate, ficou com um prejuízo de 6 000$00 (escudos). Os tripulantes salvos foram assistidos no posto de Socorros a Náufragos.

Obrigada, amigo Reimar, pela colaboração!

Para os mais curiosos e picuinhas, como eu, este iate Oceano nada tem a ver com o lugre-patacho Oceano (a denominação não me era estranha), que foi construído na Alemanha, em 1986, com o nome de “Emma”, comprado pela Sociedade de Pesca Oceano, da Figueira da Foz.
Participou nas campanhas de bacalhau de 1912 a 1915, destinando-se depois a viagens de comércio. Foi seu primeiro Capitão o Sr. Armando C. Guerra e naufragou a 3 de Janeiro de 1920, sob violento temporal.

Fotografias – Arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 22 de Janeiro de 2009

Ana Maria Lopes

5 comentários:

  1. Boa tarde.

    É quando deparo com este tipo de fotos que de imediato me sai um "Mãe do Céu!" pela boca fora. Como eram deslumbrantes estas construções! Ainda este Dezembro passado, conversava em Vila do Conde com uma pessoa ligada aos estaleiros navais, sobre o passado, os saberes que estão quase desaparecidos e pelo meio construções dos "vizinhos" José Martins de Araújo Júnior.
    Penso muitas vezes se só em nações ricas, com elevados níveis sociais é possível voltar a construir estes navios, para lazer, ensino ou museu (exemplos dos E.U.A., Holanda, Noruega, França, etc). Tanto em Vila do Conde como noutros tantos estaleiros por Portugal fora faziam-se navios da maior beleza, muitos deles desfeitos pelo mar um par de anos depois. Na minha terra, Vila do Conde, recentemente inaugurou-se uma bela réplica de uma pequena nau quinhentista. Trabalho de mestres. Vou acreditar que um dia farão de novo um navio como o desta deslumbrante foto.
    Parabéns à Drª e ao Sr. Reinaldo pelo artigo.

    Atentamente,
    www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt

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  2. Dra. Ana Maria,
    Penso ter-lhe dito que dos vários navios que pertenceram ao armador José Soares da Costa, e foram muitos, apenas se conseguiu identificar a barca "Soares da Costa", que por acaso aparece em 2 postais da cidade. Por isso fico-lhe grato por dar a conhecer este iate, ainda por cima através duma imagem absolutamente magnifica.
    E já agora, pergunto-me eu, que tipo de gente seria esta, que munidos de simples caixotes com uma lente, conseguia fotografias como a que ilustra este post.
    Verdadeiramente notável.
    Muito obrigado, Reimar

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  3. Muito interessante. No princípio do século XX abundavam navios deste tipo na marinha de comércio portuguesa. Para além das viagens costeiras faziam o longo curso. Os últimos chegaram à década de 1960...

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  4. Doutora Ana Maria:
    São 2 horas da manhã,e espero não "tresler"de novo.Num dos comentários que deixei (Dolores ?...)dizia que o "Anphitrite",do mesmo armador de Espinheiro(o que vai sendo"gato escondido com o rabo de fora"...)tinha sido construido em Vila do Conde(cito "de oitiva"...)e veio na belíssima "Illustração Portuguesa"uma foto do seu "bota-abaixo".Com uns bons 60 anos de atrazo,retenho semelhanças com este barco...Cumprimentos,
    "kyaskyas"@sapo.pt."

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  5. Ainda por aqui ando...(2 h 35...).Encontrei de novo a referência ao Anfitrite I (Anphitrite...).É de seu "post"de 15 de Janeiro passado,e seria o 1ºtrabalho de miniaturas em garrafasde Samuel Corujo."kyaskyas"

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