domingo, 24 de agosto de 2008

115º Aniversário de "O FAROL DE AVEIRO" (Parte I)



Três motivos fazem com que venha “à baila”, hoje, o Farol de Aveiro:

Praia da Barra - o Farol



– primeiro, porque simpatizo muito com faróis; tenho uma atracção especial pelo ambiente poético que o farol desperta – fonte de mistério, que facilmente convoca toda a espécie de mitos e lendas.

– segundo, porque a saída de uma emissão de selos, no dia 19 do passado mês de Junho, sobre doze dos Faróis de Portugal, sem incluir o de Aveiro, fez-me pensar. E o “bichinho” da filatelia ainda a roer…

- terceiro, porque o Farol de Aveiro perfaz, em 31 de Agosto, 115 anos e a data aproxima-se.

Pontos de referência para os marinheiros, os faróis têm tudo a ver com navegação e, apesar do progresso científico e tecnológico, não deixaram de ser fundamentais; são, isso sim, crescentemente automatizados e independentes da intervenção humana.

Hoje, Raul Brandão, sobre o faroleiro das Berlengas, já não teria motivos para escrever o que escreveu, mas, o mito e a beleza poética que este excerto desperta, tornam-no sempre actual, vivo e sublime. Recordemo-lo:

25 de Agosto de 1919

De Inverno, nenhum barco atraca às Berlengas (…). Um velho musaranho, que está metido no farol, de costas para o mar, a esfregar e a polir metais reluzentes (…) olha-me com desprezo e continua a polir os metais já polidos, como se eu não existisse. Mas não desanimo facilmente e teimo:
- Que beleza, han?!
Toquei-o. O homem sacode os ombros, levanta-se, atira o pano fora, encara-me de frente, com os bigodes assanhados entre as rugas e um olho azul de faiança cheio de cólera:
-Que beleza o quê? Que beleza?...Isto…?! - E ri-se. – O vento e o mar! Sempre o vento e o mar! O vento, que no Inverno não me deixa chegar à porta, e o mar todo o dia, toda a noite a bramir! O mar desesperado, o vento desesperado… Eu não sou um faroleiro… sou um náufrago. Que beleza, hem?...Nem posso dormir! Nem dormir! Toda a noite o vento uiva, toda a noite o mar ecoa, ameaçando submergir esta ilha do diabo!

in Os Pescadores

Voltando às emissões de selos dedicadas aos faróis, a última que houve foi em 12 de Junho de 1987. São decorridos 21 anos. Esta emissão contemplou quatro faróis da costa portuguesa, numa interpretação feliz da pintora Maluda: Farol de Aveiro, da Berlenga, do Cabo Mondego e Farol do Cabo de S. Vicente.

Folha com 16 selos da emissão de 1987



Perante a emissão actual, tive pena que o Farol de Aveiro não tivesse sido incluído. Tendo interrogado os CTT. acerca da selecção, informaram-me que foi a Marinha quem decidiu.

Além da emissão de selos, também acabou de ser publicado o livro “Faróis – a terra ao mar se anuncia” de J. Teixeira de Aguilar, especialista na matéria, com a boa apresentação e qualidade que caracterizam as edições dos CTT.

Todos nós olhamos o nosso farol, quer lhe chamemos da Barra, de Ílhavo ou de Aveiro, com carinho e alguma admiração.
É alto e imponente, numa torre de 62 metros de altura e 66 de altitude, listrada de branco e vermelho e… já centenário.

(Cont.)

Costa-Nova, 24 de Agosto de 2008

Ana Maria Lopes


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