Foram inseridas algumas modificações no regulamento, na constituição do júri, e em 1978, o concurso passou a fazer parte de uma Festa da Ria, de dimensões maiores.
Devido à construção das comportas do canal central da cidade, de 1982 a 1988, foi interrompida a festividade, tendo sido retomada com um programa cada vez mais abrangente, em que a regata e o concurso de painéis têm sido o prato forte.
Preparativos…
Mais ou menos nos mesmos moldes, decorre a regata e o concurso de painéis, na Torreira, no S. Paio, a 8 de Setembro e, mais recentemente, na Costa-Nova, na Senhora da Saúde, no último domingo de Setembro.
Nesta duas praias, não é mais do que um reavivar do tempo em que os moliceiros ali se deslocavam, numa peregrinação natural, já que a laguna era o meio de ligação mais acessível entre as terras ribeirinhas.
Nesse ano de 1988, comecei a fazer parte do júri do concurso de painéis da Festa da Ria, juntamente com o Dr. Artur Jorge Almeida, da Rota da Luz, com o Dr. Daniel Tércio Guimarães e o reconhecido artista plástico aveirense Jeremias Bandarra, durante 15 anos consecutivos, até que me comecei a sentir um pouco cansada do cargo. Mas, aprendi muito: mais de um milhar de painéis observados, possibilidade privilegiada de os fotografar, trocas de impressões com os colegas de júri e com pintores de barcos que, por ali, pelo Rossio, se iam encontrando.
Reunião do júri, em terra
Observação dos painéis, de barco…
O júri, criteriosamente, fazia uma observação dos quatro painéis da embarcação, dois de bombordo e dois de estibordo, a pé, pelo cais, e de barco – moliceirinho, bateira ou zebro – com timoneiro paciente, que nos fizesse penetrar por todos os espacinhos possíveis.
A beleza do painel, a originalidade, o humor das legendas, a adequação e o estado de conservação, eram sempre factores a ter em conta. Estes quadros ainda vão constituindo, ano após ano, uma galeria de arte flutuante e fluida, que se vai renovando.
No Verão, época de férias por excelência, em tempo de festividades da ria, e em que nem todos têm acesso à internet, não há nada como ir dando a saborear aos leitores do Marintimidades uns painéis de moliceiros, para incentivar a boa disposição. Painéis “naïfs” e brejeiros…a que cada um junta a dose de malícia e picardia que entender.
Painel de ré
Os erros ortográficos…atenção (!) são (ou melhor, eram) uma das características fortes.
Painel de proa
É pena que a Festa da Ria, em que participarão 25 barcos moliceiros, deste ano, não dê continuidade ao I Encontro Internacional de Embarcações Tradicionais que se iniciou, no ano passado. Seria muito mais proveitoso para a preservação destas embarcações do que o anúncio assustador da possível construção do chamado “moliate”. Tal embarcação apavora-me e creio que vai ser uma forte machadada nas embarcações tradicionais que a laguna ainda consegue manter.
Este ano, a regata Torreira – Aveiro da Festa da Ria e o concurso de painéis realizam-se nos próximos dias 19 e 20 , respectivamente. Espectáculo a não perder! Preparem as objectivas, enquanto não chega o “moliceiro cabinado”.
Fotografias – Arquivo particular da autora e amável cedência de Paulo Miguel Godinho
Ílhavo, 15 de Julho de 2008
Ana Maria Lopes
Boa noite.
ResponderEliminarNeste seu artigo descobri a história sobre o "moliate" e fiquei boquiaberto como um grupo denominado "Amigos da Ria e do Barco Moliceiro" propõe tamanha aberração. Se ainda fosse um qualquer privado a ter a ideia (que abomino por completo), entendia, mas um dito "protector"? Julgo que as gentes da região dirão de sua justiça e espero que a existir se fique pelo protótipo, autêntico Frankenstein dos moliceiros.
Quanto aos painéis, são sem dúvida um ícone destes barcos e já ouvi todo o tipo de opiniões sobre o estilo mais "picante" dos tempos modernos. O turista deve ficar um pouco confuso, mas por outro lado não tira os olhos do barco (ou da proa!). Acima de tudo são os barcos e a tradição o que interessa manter... e "moliates" nunca farão parte disso.
Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt