domingo, 6 de julho de 2008

Exposição João Carlos e Cândido Teles (Parte I)


A Exposição João Carlos e Cândido Teles, ontem inaugurada na sala de exposições do Centro Cultural de Ílhavo, prolonga-se até ao dia 28 de Setembro como exposição temporária, para ser refeita como espaço permanente, na ala direita da mesma sala, depois de repensada, melhor organizada, amadurecida e melhor seleccionada, suponho.
Congratulo-me, pois, com o cumprimento de uma promessa da CMI, com mais de quinze anos, pelo menos, no caso de Cândido Teles, e com bastante mais tempo, relativamente aos Familiares de João Carlos.
Orgulhemo-nos pois de poder visitar e admirar a obra de dois notáveis Artistas da nossa terra.

JOÃO CARLOS Celestino Pereira Gomes nasceu em Ílhavo, a 5 de Outubro de 1899 e morreu em Lisboa, a 11 de Novembro de 1960, estando sepultado em Ílhavo, conforme desejo por si formulado.
João Carlos, figura multifacetada, foi médico, escritor, pintor, entalhador, ilustrador, desenhador e xilógrafo. Tentou também a cerâmica, a escultura, o ferro e o mosaico, onde deixou curiosos e interessantes exemplares. Pena é que, nesta exposição, com tanto espaço disponível, demais, alguns destes aspectos não tenham sido contemplados!
Ao reler, minuciosamente, um texto que Frederico de Moura lhe dedica na “Evocação” do Catálogo João Carlos – Retrospectiva, 1991, não resisti à tentação de transcrever este excerto:
(…) A altura em que o seu lápis e o seu pincel eram tocados de poesia, era quando ondulava o tronco duma peixeira de Ílhavo, quando individualizava a musculatura dum pescador da Costa Nova, quando catava motivos decorativos na proa dum moliceiro, quando se auto-retratava, ainda menino, com a opa vermelha da Irmandade do Senhor, ao lado de seu avô, ou quando aparecia com um moinho de papel da romaria da Senhora da Saúde. Tinha Ílhavo no coração e a sua obra é a tradutora mais rica da sua ambiência e da nossa etnografia. Por isso, merece a gratidão da gente da sua terra, da gente que o seu lápis e o seu pincel acarinharam numa obra perene de beleza e muitas vezes marcada de sentido humano (…).

Em vez de tecer considerações relativamente à obra exposta ou aos critérios seguidos na sua selecção, o Marintimidades, hoje, aconselha os leitores a visitar a exposição e fornece-lhe mais alguns dados de reflexão.

Obras de João Carlos que apenas estiveram expostas em Ílhavo uma vez, porque de uma Retrospectiva se tratava, em Abril /Maio de 1991, são aqui recordadas. Já lá vão 17 anos.
De posse de alguns desses dados, não os quero reservar só para mim, receando que os mais novos os não conheçam. Adoptando um critério cronológico, ei-las:

Ceifeiros, 1934
Técnica mista, 42x35 cm
Col. Feverónia Mendonça, Lisboa

Caminhos do Sangue, 1942
Nanquim, 24x20 cm
Col. Moreira das Neves, Lisboa

A Ceia, 1951
Óleo sobre tela, 200x300 cm
Col. Seminário dos Olivais, Lisboa


Flor de Plástico, 1959
Óleo sobre cartão, 56x45 cm
Col. Feverónia Mendonça, Lisboa

Lisboa, 1959
Óleo sobre tela, 81x65 cm
Col. M. Luisa C. Saldanha Q. R. dos Santos, Lisboa



Curioso que a presente Exposição, bem como o Catálogo, apresentam um pequeno Apontamento para “Lisboa”, desenho a tinta-da-china sobre papel, sem data. Constata-se que, de facto, se trata da mesma obra e, belíssima obra, que ela é.

Cartão para figurino dos Pajens de Santa Joana, 1959
Nanquim e gouache, 33x33 cm
Col. Paço Episcopal de Aveiro


D. João II, 1960
Nanquim, 56x43 cm
Col. Museu de Marinha, Lisboa

Para terminar, apreciemos a capa de uma Revista editada pela C.M.I., em 1932, em que a Costa-Nova, publicitada por uma banhista escultural e naïve, daria um dos melhores cartazes para a nossa praia. É uma sugestão.
É pena que alguns dos ingredientes apregoados já não sejam os mesmos: a ria a beijar as casas, as bateiras atracadas aos moirões em frente aos palheiros, o barco do mar com toda a beleza e empolgamento da arte que praticava.

COSTA-NOVA, 1932

(Continua com Cândido Teles)


Fotografias – Arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 6 de Julho de 2008

Ana Maria Lopes




1 comentário:

  1. Visitar o Marintimidadesé sempre um encontrar um arquivo vivo da nossa terra....as obras que mostras lindas principalmente o cartaz..fazendo lembrar os famosos desenhos publicitários do Ramos Pinto..nem sequer sei de são comtemporanêos

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