sábado, 21 de junho de 2008

Livro "JORGE GODINHO"

Desculpem os amantes do mar e da ria, mas abro uma excepção. Hoje, as minhas intimidades não são marítimas, pois tenho outras – que também íntimas, desejo partilhar com outros, nesta hora.

Dizem que os Jovens mortos vivem Junto das Fontes. Arrefeceu a Guitarra, quebrada foi a obra, ficou o amor e os frutos, única perenidade possível, mas, mesmo assim, também dão de beber a quem passa.
Manuel Louzã Henriques, Coimbra, 2008

O livro biográfico – JORGE GODINHO –, em jeito de in memoria, que hoje me chegou da gráfica, nasceu de um desejo que se sobrepôs ao recato e virou necessidade de partilha.

O Jorge teria feito, neste ano de 2008, 70 anos, no dia 5 de Janeiro.

Dedico a biografia, se não tanto aos nossos filhos, sobretudo aos nossos netos.

Ao meu rapazito mais velho, o Jorge, há já uns anos, uma guitarra/bibelot, pousada, estática, abandonada a um canto em minha casa, e na qual ninguém toca, parece estar à espera de alguém que lhe desperte a sonoridade escondida no seu interior.


Era a guitarra do Avô Jorge – explica a Avó Ana, talvez deixando para uma altura mais conveniente a tarefa de contar a história do instrumento, que outrora vibrante, jaz ali ao canto, como que abandonado, à espera, sabe-se lá (!) que outras mãos lhe voltem a dar vida e canto.

De curiosidade em curiosidade, dos quê e dos porquês, nasceu uma montanha de perguntas, insistentes e curiosas, a que tentei, comovidamente responder sem, contudo, conseguir satisfazer a curiosidade insaciável do neto.
Talvez o esquema conceptual deste livro, pequeno em tamanho mas grande de alma, tenha, então, a capacidade de fazer o que, na altura, não fui capaz de explicar. E quem sabe, venha despertar a resposta genética capaz de voltar a dar vida à guitarra triste, a um canto abandonada.
O Inverno, com os meses mais rigorosos a castigar-me com maior dose de solidão nos dias mais frios, mais cinzentos, mais pequenos e menos luminosos, provocou-me o bastante para lhe dar corpo. Aqui fica, pois, a biografia de Jorge Godinho.


Era uma tarefa a cumprir. Se eu não o fizesse, provavelmente mais ninguém o faria: senti, e ainda sinto, no íntimo, a tragédia plasmada na história da vida, tão repentina e dolorosamente atingida com o desaparecimento do Jorge. Tinha em casa os documentos necessários (fotografias, recortes de jornais, discos, memórias…) e senti a obrigação e a devoção, de os legar aos nossos netos, que o Jorge adoraria ter conhecido e acarinhado.

Quem foi Jorge Godinho?

De uma maneira simples e despretensiosa, aí têm a sua biografia, curta, mas autêntica, a sua discografia e os depoimentos dos Amigos que, de mais perto, lidaram com ele, sobretudo, na fase mais intensamente artística da sua vida.

Está feito.




Esta biografia nasceu para ser integrada no blog – Guitarra de Coimbra (Parte II), de Octávio Sérgio, onde foi postada, por amabilidade do Autor.

No entanto, muito embora aderente às novas tecnologias, que têm virtudes mas e também defeitos, continuo a achar que um livro é sempre um livro. E por isso, passei as notas biográficas ao papel.

Será distribuído aos familiares, aos nossos amigos, aos seus antigos alunos. Uns e outros, estou certa, com fortes razões para desejarem dele ter uma grata recordação, como bom amigo e excelente pedagogo que foi.
No início do Outono, será apresentado numa Galeria de Arte, em Santa Clara, Coimbra, pelo Dr. Louzã Henriques, médico psiquiatra e teorizador do Fado, no seio de uma reunião familiar, que contará com a presença simpática e adequada, do grupo Raízes de Coimbra.


O fado e a guitarra não podiam faltar.


Era o mínimo que podia fazer pela memória de Jorge Godinho, no intento de a avivar e transmitir às gerações vindouras.

Fotografias: Arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 21 de Junho de 2008

Ana Maria Lopes


3 comentários:

  1. Já tentei por mais do que uma..mais do que duas vezes ..escrever algo por que senti que o queria fazer..não consigo..talvez só pedirte que me digas como posso ter uma biografia do prof. Jorge Godinho.Tanto como a Costa Nova (onde tantas vezes me cruzei com ele)O prof Jorge Godinho faz parte das minhas memórias boas..não fui aluna dele mas contemporãnea de quem foi e com quem muito partilhei..Realmente só a distância que o tempo provoca nos ser capazes de gestos como o teu...

    ResponderEliminar
  2. E de súbito regresso a 1969 e ouço o Jorge Godinho a falar de música, e a ouvir a "Abertura de 1812" de Tchaikowsky e acompanhar emocionado, com a ajuda das suas palavras, a marcha dolorosa do exército de Napoleão tentando, em vão, ocupar a Rússia que o recebeu com a astúcia de quem conhecia a violência do inverno a que só o seu povo conseguia resistir...
    Que pena não ter gravado a sua "aula" e ter de novo aqui a sua voz a levar-nos ao som da Marselhesa que os sinos de Moscovo vão a pouco e pouco asfixiando...enquanto paradoxalmente sofremos com Napoleão e nos sentímos felizes com a vitória que Tchaikowsky nos oferece na conclusão desta sua obra.

    Sobre o Fado de Coimbra disse-me uma noite, depois de me ouvir a cantar no Pavilhão do Illiabum, que "um dia destes" me iria ensinar um pouco da técnica de que eu necessitava para atingir os agudos que eu poderia alcançar.
    Mas o tempo foi demasiado curto. E o Jorge sabia que, como diz o Fado da Mentira, "a vida é gosto e desgosto/mentira, tudo mentira."

    Obrigado por partilhar connosco a memória do Jorge Godinho.

    Aguardo com ansiedade o seu livro.

    vieira da silva

    ResponderEliminar
  3. Com os olhos turvos, relembro nesta fotografia, a ironia e a eloquência de um homem elegante que entrou no Liceu Nacional de Aveiro e nos começou a ensinar o que era a filosofia.
    Mas mais do que a matéria escolar, este homem ensinava o que era a filosofia da vida, a sua experiência, o que tinha visto e vivido pelo mundo fora.
    Isto para jovens de 15 anos no Portugal no início dos anos 70, foi a LUZ.
    Foi talvez o meu melhor professor de quem guardo a recordação de ser UM HOMEM SUPERIOR.
    Também fico ansioso por ler o seu livro.
    António Ribeiro

    ResponderEliminar