Escolhi este assunto para iniciar o blog, porque o recordo com enorme nostalgia e saudade.
Num sábado, 10 de Março de 1956, com 12 anos, fui madrinha do São Jorge.
Há em mim qualquer gene que me faz amar tudo que saiba a maresia, tudo o que é mar e ria.
Havia, então, assistido, só entre o público, a um bota-baixo e a cerimónia fascinara-me. Não me imaginava personagem principal do que para mim, com aquela idade, era um conto de fadas.
Um belo dia, aparece-me em casa, ali no Curtido de Baixo, o Sr. António Cunha, então gerente da Empresa Testa & Cunhas, a convidar-me para madrinha do São Jorge, que estava em construção.
Num sábado, 10 de Março de 1956, com 12 anos, fui madrinha do São Jorge.
Há em mim qualquer gene que me faz amar tudo que saiba a maresia, tudo o que é mar e ria.
Havia, então, assistido, só entre o público, a um bota-baixo e a cerimónia fascinara-me. Não me imaginava personagem principal do que para mim, com aquela idade, era um conto de fadas.
Um belo dia, aparece-me em casa, ali no Curtido de Baixo, o Sr. António Cunha, então gerente da Empresa Testa & Cunhas, a convidar-me para madrinha do São Jorge, que estava em construção.
Porquê eu? Que sensação! Parecia-me convite só para gente importante e crescida!
O nervosismo e a ansiedade intensificavam-se à medida que a data se ia aproximando… a “toilette” (vinha a fina flor da sociedade lisboeta ligada às pescas), o quebrar da garrafa…
Passei a treinar insistentemente nos troncos de laranjeiras do quintal, mas em vão! O tronco ficava esfolado, mas o resistente vidro da garrafa de “champagne” cheia de água, intacto… Havia de ser o que Deus quisesse. Tinha que partir a garrafa.
No sábado escolhido, o dia estava bonito, mas com um ventinho norte a soprar com alguma intensidade.
Pelas 13 horas da tarde, na estação de Aveiro, o Sr. Governador Civil de Aveiro, proprietários do novo navio, autoridades locais, militares e civis e muita gente aguardavam o Sr. Ministro da Marinha, Almirante Américo Tomás e sua comitiva que se deslocara propositadamente a Aveiro em comboio foguete especial.
Chegada à Estação de Aveiro
Teve lugar no salão de festas do então famoso edifício do Teatro Avenida um lauto almoço que a empresa proprietária ofereceu a cerca de trezentos convidados.
Pormenor dos convidados
O convite era embelezado por um curto texto de D. João Evangelista de Lima Vidal:
(…) Nós, os de Aveiro, somos feitos, dos pés à cabeça, de ria, de barcos, de remos, de redes, de velas, de montinhos de sal e areia, até de naufrágios. Se nos abrissem o peito, encontrariam lá dentro um barquinho à vela ou então uma bóia ou uma fateixa – quem sabe?! – talvez a Senhora dos Navegantes(…)
A ementa constava de linguado à Colbert, arroz de pato à Beira Mar, leitão assado; ovos moles regionais, fios de ovos, pudim de laranja, ananás ao Madeira e café (sobremesa); vinhos tinto e branco das caves do Galo d’Ouro, espumante Raposeira, aguardente de 1920 e licores (vinhos).
Usaram da palavra algumas individualidades a desejarem as maiores felicidades à firma armadora, à nova unidade e ao construtor. Pormenor curioso os leitões antes de trinchados e servidos, desfilaram elegantemente em braço de criados, tal passagem de modelos, dentro de pequenos dóris embandeirados em arco, construídos para o efeito.
(…) Nós, os de Aveiro, somos feitos, dos pés à cabeça, de ria, de barcos, de remos, de redes, de velas, de montinhos de sal e areia, até de naufrágios. Se nos abrissem o peito, encontrariam lá dentro um barquinho à vela ou então uma bóia ou uma fateixa – quem sabe?! – talvez a Senhora dos Navegantes(…)
A ementa constava de linguado à Colbert, arroz de pato à Beira Mar, leitão assado; ovos moles regionais, fios de ovos, pudim de laranja, ananás ao Madeira e café (sobremesa); vinhos tinto e branco das caves do Galo d’Ouro, espumante Raposeira, aguardente de 1920 e licores (vinhos).
Usaram da palavra algumas individualidades a desejarem as maiores felicidades à firma armadora, à nova unidade e ao construtor. Pormenor curioso os leitões antes de trinchados e servidos, desfilaram elegantemente em braço de criados, tal passagem de modelos, dentro de pequenos dóris embandeirados em arco, construídos para o efeito.
Pequenos dóris com os leitões
(Cont.)
Ílhavo, 23 de Abril de 2008
Ana Maria Lopes
Para começar, acho que está muito bem. Parabéns.
ResponderEliminarTalvez possas ir melhorando o aspecto (mais azuis, por exemplo, dado que o blog tratará de assuntos marítimos).