-
A
prosa romanceada do mais recente livro de Manuel Martins, intitulado” Última
campanha da pesca à linha”, foi elaborada a bordo do penúltimo navio da citada
pesca – “São Jorge”.
O primeiro episódio passa-se com o 25 de Abril, quando o navio “São Jorge”, navegava no canal com o mesmo nome, a caminho dos bancos da Terra Nova.
-
Desde
que me comecei a interessar pela Faina Maior, já lá vão muitos anos,
logo soube que, no ano de 1974, os únicos três navios que foram à pesca à
linha, do bacalhau, foram o “O Ilhavense”, o “São Jorge” e o “Novos Mares, os três,
navios-motor.
O
“São Jorge” navegava serenamente, com mar de pequena vaga, a caminho dos mares
da Terra Nova, a 22 de Abril de 1974.
Este
navio, baptizara-o, eu, na Gafanha da Nazaré, com doze anos, e naufragara, por
incêndio, entre a tripulação, com o imediato, Manuel Martins, que chegara a ver
a morte, a 26 de Julho de 1974 – contrastes.
Depois
de algumas pesquisas de fundos, para a pesca, a
primeira semana no Rocos fora proveitosa para todos. Mas, um dia, pela
manhã, 26 de Junho, o “Ilhavense” emitiu um SOS, comunicando que tinha fogo a
bordo. O capitão do “São Jorge” logo ordenou que fossem em auxílio do navio
incendiado. Em menos de meia hora,
estava a 200 metros do dito navio, que já tinha o pessoal, dentro dos botes, na
água, bem como a baleeira com os oficiais e a restante tripulação.
Um acidente!..., mas sem perda de vidas! Era um cenário desolador, para o pescador, já a salvo, ver o seu bote à deriva, para ser tragado pelo oceano. Entretanto, o “Novos Mares”, que estava mais distante, ainda chegou a tempo de salvar alguns náufragos, que, entretanto, foram levados até St. John`s, para ser tratado o repatriamento.
-
Pelas
condições climatéricas e pelas diversas notícias, chegadas de Portugal, o Verão,
na Terra Nova, estava mesmo a ser um Verão quente…Muitas reuniões, muitas
reivindicações, mutos problemas, mas nada se resolvia. Só o regresso a Portugal
era o desejo dos tripulantes.
Era,
pois, meio-dia de 26 de Julho do ano de 1974, quando os dois navios
sobreviventes da frota branca, largaram de St. John`s. Era um adeus até sempre,
na esperança de, no ano seguinte, regressarem, possivelmente, como tripulantes,
a bordo de um arrastão.
Apesar
de não serem as condições ideais, eram, contudo, boas condições para navegar
para a terra-pátria.
Mal
tinham acabado de comer a sopa do jantar, pelas 18 horas, sentiram a máquina
parar. O ajudante, esbaforido, avisou: venham ajudar, há fogo na casa das
máquinas!... Começou o capítulo o “naufrágio”, de todos o mais pungente e
aflitivo. Todo o processo de salvamento para bordo do “Novos Mares” foi muito
complicado e perigoso, mas o do imediato Norberto transcendeu tudo o que é
narrável. O autor, Manuel Martins, apesar de o ter sentido na pele e na alma,
optou por ser um narrador não participante, sob o heterónimo de Norberto, através
de um narrador que conta, na terceira pessoa, o seu salvamento. Deixo para o
leitor a avaliação de todos os pormenores e aflições. Já no “Novos Mares”, o
Antenor disse para o imediato Norberto: Você salvou-se por um triz. É
preciso ter uma força anímica muto forte para conseguir um feito tão audacioso.
Tendo
atracado o “Novos Mares”, em St. John`s, o repatriamento dos náufragos seguiu-se
nos trâmites habituais.
Sobrou o “Novos Mares”, que saiu da Terra Nova e chegou à Gafanha da Nazaré, sem peixe, carregado de sal, com a companha em greve, em inícios de Agosto de 1974.
-
Terminava
assim a epopeia da última campanha da pesca do bacalhau à linha, nos bancos da
Terra Nova.
Ílhavo,
4 de Maio de 2024
Ana
Maria Lopes
Sem comentários:
Enviar um comentário