Confesso que ando para dar corpo a este texto desde que criei o Marintimidades, mas vai ficando…, vai ficando, até que hoje veio a lume, neste dia invernoso de começo de Outono.
Interessará, possivelmente, a um número diminuto de leitores, mas despertou-me a curiosidade a mim, e creio que clarifica alguns pormenores, desconhecidos de outros, acerca do «Painel do Gil Eannes», existente no MMI.
Acontece (não será muito vulgar), que o MMI possui, no seu espólio, não um, mas dois quadros a óleo, muito idênticos, de grandes dimensões. Ambos assinados pelo por Domingos Rebêlo (assim assinava o artista), com o mesmo motivo, a mesma datação (1955), diferentes dimensões, com o mesmo tipo de suporte, platex, com finalidades diferentes…e alguns pormenores também distintos.
E se bisbilhotássemos e tentássemos clarificar?
Durante o ano de 1990 (tomara posse a 23 de Novembro), foi-se trocando diversa correspondência entre a CMI e a Comissão Liquidatária da Ex-CRCB, através da qual o Presidente da CMI manifestava o desejo de o painel decorativo da Câmara dos Oficiais do navio Gil Eannes, da autoria de Domingos Rebelo, 1955 (1,21x2,54 m.), alusivo à assistência que a Organização Corporativa prestara aos pescadores e suas famílias, passasse a integrar o espólio do Museu de Ílhavo.
Como elegia, que é, da pesca do bacalhau, com toda a gente que a serviu e rodeou, é uma obra que muito interessava ao acervo do Museu.
Depois de alguns contratempos e dificuldades, a 25 de Agosto de 1990, o Administrador Liquidatário da referida instituição comunicou à Direcção do Museu que a Direcção Geral do Património do Estado autorizara a entrega do quadro em causa ao nosso Museu, tendo dado entrada a 2 de Novembro de 1990.
O óleo de D. Rebelo, incorporado no MMI
Não fora incorporado na já arquitectada exposição temporária Faina Maior (inaugurada a 28 de Novembro de 1992), mas sim exposto a 2 de Abril de 1994, aquando da Reabertura do Museu com a Faina Maior transformada em exposição permanente, até ao encerramento temporário da instituição para remodelação (Agosto de 1999).
Reparem bem no exterior das casinhas do bairro de pescadores, à esquerda.
O óleo em exposição – 1994
Este mesmo óleo esteve exposto no átrio do remodelado edifício, a partir de Março de 2002 e foi integrado na Exposição Estética e Ideologia da Faina Maior – 1º Acto, na Sala de Exposições do MMI, entre 2 de Agosto e 30 de Setembro do ano de 2003.
Convite
O pescador do bacalhau no seu ar místico e grandioso (figura central do quadro), mais parece um santo. É um antigo pescador de Vila Franca do Campo, Manuel Cafua, que foi modelo de alguns trabalhos de Domingos Rebelo.
(Cont.)
Ílhavo, 8 de Outubro de 2010
Ana Maria Lopes
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Olá Dra. Ana Maria Lopes,
ResponderEliminarNão sabia que esse quadro se encontrava no MMI. Ainda bem que se encontra a salvo.Pena que não possa ser integrado no local original que felizmente está preservado e onde ficaria melhor integrado (não quero dizer preservado)...
Durante o longo período em que o navio foi abandonado pela CRCB na doca do Espanhol e outros cais de Lisboa onde andou a passear, muita coisa foi "desviada" para não lhe chamar outro nome.
O painel da capela está no Museu de Marinha. Tendo sido solicitada a cedência pela Fundação, tal não foi possível. Um artista Vianense fez uma réplica para repor a falta, mas outros objectos como agulhas, radares, aparelhos de fonia, etc. "voaram" para paradeiros incertos onde os detentores certamente se sentirão envaidecidos de dizer que pertenceram ao Gil Eanes.
Mas que grande vaidade!
Oliveira Martins
Sempre interessante ler mais sobre o GIL EANNES.
ResponderEliminarAcerca do comentário anterior, de facto o navio esteve muitos anos atracado na doca de Alcântara, em Lisboa, mas a maior parte desse período de imobilização foi da responsabilidade da empresa que adquiriu o navio à CRCB, a ALTUREM. O GIL EANNES imobilizou em Lisboa no dia 20 de Fevereiro de 1984.
A todos os que ainda amam o navio-hospital Gil Eannes : Grande navio, grandes oficiais, grandes e bravos marinheiros. Para a época foi um verdadeiro marco naval, e merecia não ter sido tão espoliado dos seus valores fisicos como o foi. Hoje é um triste remendo, mas o amor de quem dele cuida é imenso.
ResponderEliminarDesde 1959 que com ele, G.E. convivo, e assim será até ao fim.
Mário J.P. Esteves
Vi este quadro!
ResponderEliminarSim, pela primeira vez, vi este quadro em 1965, colocado na parede do fundo da sala do gabinete do Delegado do Governo. O mesmo manteve-se até ao ano de 1974. Depois transitou para a Comissão R. C. Bacalhau, assim como todo o Património do Grémio do Bacalhau, por força do decreto-lei que extinguia o Grémio. Na CRCB, foi colocado na sala de reuniões até à data da extinção da mesma. No sentido de tentar esclarecer alguma situação menos clara fica aqui o meu testemunho.
Joel Inácio