segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Luciana Casanova, modelista do EMS


Entre mim e o Ecomuseu Museu do Seixal existe alguma permuta de afectos, desde há longos anos.

Numa volta pelo litoral do país, em 1988, tive curiosidade de ir conhecer o recém-criado Ecomuseu do Seixal, que, à época, apenas tinha o Núcleo Naval, onde se exibiam algumas rigorosas miniaturas estuarinas do Tejo, produto da habilidade, saber e precisão do Sr. Arnaldo Cunha (1918-2000).

Na altura, coleccionava algumas maquetas de embarcações (hoje, deixei-me disso, devido aos cuidados de conservação que exigem e aos preços exorbitantes), sobretudo marítimas, mas, a beleza, forma e policromia de algumas miniaturas do Tejo, fascinaram-me. Só o preço é que era praticamente proibitivo.

Decorria aí, então, uma Acção de Formação sobre construção naval, na vertente de miniaturas de embarcações, organizada conjuntamente pela CMS e IEFP, orientada por Arnaldo Cunha, de que era aluna Luciana Casanova (1936).



Na oficina do EMS, em 2008


Os seus modelos atraíram-me e tentaram-me mesmo a encomendar-lhe um, mais acessível, de que gostei – o dito catraio do Tejo. Mas a acessibilidade, para a época, tinha que se lhe dissesse – custava a módica quantia de 25.000$00.

Instada a pagar um sinal pela encomenda, metade do valor, lá regressei com o preço da embarcação entalado nos gorgomilos…

Foi-me entregue em Agosto, trazida por pessoas de Ílhavo que residem na zona e costumam passar o Verão, na Costa Nova.

E lá está, desde essa altura, exposta com carinho, na minha casa de praia.



Miniatura do catraio

O catraio, construído, à escala 1/20, uma das menores embarcações do Tejo, tinha diversas utilizações, podendo ser, também, uma embarcação de recreio. Eram frequentes as regatas entre este tipo de barcos.

Poderia armar de várias maneiras, mas este apresenta-se, com uma bujarrona, à proa, e com dois mastros; no maior, arma uma vela quadrangular, de espicha, e no menor, uma pequena catita, também de espicha.

O curioso é que entre mim e a Luciana criou-se alguma empatia e ela, sempre que lá vou, faz-me uma grande festa, lembrando, em voz alta, que fui eu a pessoa que lhe comprou a primeira maquette. Por várias razões, também não a esqueci mais.

Luciana Casanova entrou no quadro do funcionamento do EMS, na mesma actividade e, ainda, há cerca de uma semana, aquando da realização do 7º Congresso do European Maritime Heritage, lá estive e o encontro foi amistoso e esfuziante, como sempre.
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Na oficina do EMS, em 2008

Pessoa profundamente conhecedora da matéria chamou-me a atenção para o valor actual da miniatura do catraio que a Luciana me fizera em 1988 – mil duzentos e cinquenta euros.

Meu Deus! Se já lhe dava valor, ainda mais passei a apreciá-lo e vou fazer por que fique melhor preservado.

Histórias de embarcações e afectos…

Fotografias de arquivo

Ílhavo, 4 de Outubro de 2010

Ana Maria Lopes
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