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O
maior modelo ja O maior modelo jamais construído O maior modelo jamais construído
Desde
que me lembro, conheço seis colheres sóbrias e pesadas, de prata, com a estrela
relevada, no cabo, logotipo da WSL,
companhia a que o Tinanic pertenceu.
Desde sempre o meu Avô me contou a história delas, repetida mais tarde pela
minha Avó, após a sua partida.
O
Titanic, paquete colossal e luxuoso,
naufragara contra um malvado e gélido iceberg,
na sua viagem inaugural, quando saiu de Southampton (Reino Unido) em direcção a
Nova Iorque, na madrugada do fatídico dia 14/15 de Abril de 1912.
Por
essa altura, costumavam os veleiros portugueses da pesca do bacalhau partir dos
diversos portos que os apetrechavam, em direcção aos Grandes Bancos, de onde
voltavam por meados de Setembro a Novembro. Ora, consta que, em Ílhavo, algumas
famílias possuem talheres provenientes do Titanic,
mas todos com a mesma origem. E o que nos dizia a tradição?
Na
primavera de 1912, ao dirigirem-se para a pesca, pescadores do lugre Trombetas, da praça da Figueira da Foz, «pescaram» uma cómoda que boiava, mais
ou menos no sítio, um pouco mais a norte, onde tinha naufragado o luxuoso
paquete. Era seu capitão, à época, o ilhavense João Francisco Grilo, de
alcunha, Frade, casado com a irmã Rosário da minha bisavó, a «arraisa» Joana
Caloa. Nesse mesmo ano, o meu Avô, Manuel Simões da Barbeira, mais conhecido
por Capitão Pisco, sobrinho e afilhado do achador,
comandara o lugre Golfinho, também da mesma praça da Figueira da
Foz. Entraram essa barra, ambos, a 27 de
Outubro de 1912, testemunha o jornal «A Voz da Justiça», da Figueira da
Foz.
O
capitão, à chegada, deu contas do achado
ao seu armador, da Lusitânia Companhia Portuguesa de Pesca, mas, talvez, tendo
este ficado com alguns talheres, não deu grande importância ao assunto e
aconselhou o Capitão Frade a trazê-los para Ílhavo, ficar com alguns e
distribuir os restantes por familiares e amigos. Foi esta a origem das minhas,
hoje, seis colheres de prata, com a estrela relevada da WSL.
Esta
história mítica, mas «com pernas para andar», porque as coincidências e
probabilidades são mais que muitas, manteve-se dezenas de anos no seio destas
famílias ilhavenses que não gostavam muito de falar do assunto – fui
constatando.
O
interesse pelas colheres mágicas ressalta-me, e, na qualidade de Directora do
Museu Marítimo de Ílhavo, na década de noventa, tinha gosto em certificar mais
esta tradição. Eis que o National Maritime Museum – Greenwich – Londres, em
1994, em grandes parangonas, anuncia a exposição – The Wreck of Titanic. Sorvi
a informação e pus-me lá, em dois tempos. Mas, embora tenha apreciado muito,
talheres iguais não eram apresentados. Desconfiei…, mas, o peso da tradição
ilhavense tinha mais força.
Dez
anos mais tarde, o Mercado Ferreira Borges, no Porto, exibiu uma exposição idêntica,
que também não me elucidou completamente. Foi preciso chegar a uma terceira
exposição apresentada na Estação do Rossio (Restauradores), em 2009, em Lisboa,
quando, ao visitar a secção de objectos de cozinha, da baixela e faqueiros da
sala de jantar, não me contive que não soltasse uma exclamação de alegria e
espanto:
Aqui estão talheres (eram vários) do Titanic iguaizinhos às colheres que temos lá em casa. Sorri com um
brilho nos olhos. Pois, pudera, já tinha comido sopa com elas!!!!!!!!!
Para
recordar, um dos filmes feito no Centenário, há 10 anos. Não foi assim há tanto tempo!...
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Ílhavo,
14 de Abril de 2022
Ana Maria Lopes