terça-feira, 26 de abril de 2022

O último capitão do "Gazela I" partiu...

 -

-

Acabei de saber que o último capitão do lugre-patacho Gazela I, na safra de 1969 “partiu”, ontem.

Aníbal Carlos da Rocha Parracho, filho de Carlos Fernandes Parracho e de Silvina da Rocha, nasceu em Ílhavo, em 26 de Junho de 1927, em Ílhavo.

Não tendo tido grande convivência com ele nem com a Família, era assim que o identificava – o último capitão do Gazela.

-

Capitães do Gazela I
-

Homem do mar e quase sempre piloto, imediato ou capitão de navios de pesca à linha, era possuidor da cédula marítima nº 115511, passada pela Capitania do porto de Lisboa, em 21 de Julho de 1954.

Do casamento com Fernanda de Oliveira Pio Parracho, nasceram os filhos Maria Filomena e Carlos Júlio Pio Parracho.

Passou pelos navios Senhora das Candeias (arrastão lateral), em 1954, Dom Denis, em 1955, Santa Maria Madalena, em 1956, Rio Antuã, de 1957 a 1960, Rainha Santa, em 1961, Neptuno, de 1962 a 68, Gazela I, em 1969, Conceição Vilarinho, em 1970, Ilhavense, em 1971, Celeste Maria, em 1972, ano em que naufragou. De novo, comandou o navio-motor Ilhavense, em 1973 e 1974, ano em que naufragou.

-

Entre amigos…
-

Acabou a sua carreira de pesca à linha do bacalhau.

Depois de uma longa e merecida aposentação, partiu em viagem sem retorno, a 25 de Abril de 2022, com a provecta idade de 94 anos.

-

Ílhavo, 26 de Abril de 2022

Ana Maria Lopes

-

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Duas velinhas (14) para o "Marintimidades"

 -

Colecção Capitão Marques da Silva

-

catorze anos, por vintes de Abril de 2008, andava em ensaios para criar um blogue, exactamente, quando estava em exposição no Museu Marítimo de Ílhavo (MMI), a “Colecção Capitão Marques da Silva, na Sala de Exposições Temporárias. Mesmo depois do prazo de encerramento, seria integrada, pelo menos o seu núcleo principal, na Sala dos Mares do referido Museu.

O protocolo do depósito desta colecção foi assinado, a 5 desse mês de Abril, bem como lançado um pormenorizado Catálogo da mesma. Dele direi apenas que, quem o adquirir, levará a exposição para casa, pois é ilustrado por 30 boas fotografias de Carlos Pelicas das 30 peças expostas, com os respectivos inventários.

-

 
Capa do Catálogo
-

Para mim, foi muito gratificante trabalhar com Marques da Silva, consolidando uma amizade já com alguns anos, aquando do seu empréstimo ao museu de algumas peças que figuraram na 1ª exposição Faina Maior, em 1992. Não há palavras que qualifiquem as suas mãos nem a sua paciência, que fazem dele um modelista pedagógico de primeira água. Só mesmo as peças falam por si.

-

Modelo do lugre-motor Creoula
- 

Curioso o facto de termos em comum um gosto forte pela Grande Faina e, também, pelas embarcações tradicionais portuguesas.

Louvável, a todos os níveis, o seu acto de depósito da maravilhosa Colecção, dando possibilidade a todos os visitantes do Museu de a observarem de perto.

-

O autor e o barco moliceiro
- 

E assim foi criado o Marintimidades, que ora festeja 14 anos, juntando-lhe mais uma velinha, para falar das coisas do mar, da ria, de embarcações, de artes, de museologia marítima e de eventos que surjam dentro desta área, publicitando-os, e sobre eles detendo um olhar…

Uma recordação desse dia… e nestes catorze anos, muita água passou por baixo das pontes…

-

Uma recordação desse dia...
-

A “Colecção Capitão Marques da Silva” foi-se enriquecendo com o depósito de outros documentos, bem como de outas maquetas de embarcações tradicionais de outras regiões e de sete modelos de Navios dos Descobrimentos – barca de vela e remo, barinel, caravela pescareza, caravela de dois mastros, caravela de três mastros, caravela redonda e nau “S. Gabriel”, que deram origem ao livro com o mesmo nome, editado pelos AMI.

 -

"Os Navios dos Descobrimentos- Memórias e Modelos"
- 

Ílhavo, 21 de Abril de 2022

-

Ana Maria Lopes

-

quinta-feira, 14 de abril de 2022

A 110 anos do naufrágio do inafundável "Titanic"

 -

O maior modelo ja
 O maior modelo jamais construído
 O maior modelo jamais construído

Desde que me lembro, conheço seis colheres sóbrias e pesadas, de prata, com a estrela relevada, no cabo, logotipo da WSL, companhia a que o Tinanic pertenceu. Desde sempre o meu Avô me contou a história delas, repetida mais tarde pela minha Avó, após a sua partida.

O Titanic, paquete colossal e luxuoso, naufragara contra um malvado e gélido iceberg, na sua viagem inaugural, quando saiu de Southampton (Reino Unido) em direcção a Nova Iorque, na madrugada do fatídico dia 14/15 de Abril de 1912.

Por essa altura, costumavam os veleiros portugueses da pesca do bacalhau partir dos diversos portos que os apetrechavam, em direcção aos Grandes Bancos, de onde voltavam por meados de Setembro a Novembro. Ora, consta que, em Ílhavo, algumas famílias possuem talheres provenientes do Titanic, mas todos com a mesma origem. E o que nos dizia a tradição?

Na primavera de 1912, ao dirigirem-se para a pesca, pescadores do lugre Trombetas, da praça da Figueira da Foz, «pescaram» uma cómoda que boiava, mais ou menos no sítio, um pouco mais a norte, onde tinha naufragado o luxuoso paquete. Era seu capitão, à época, o ilhavense João Francisco Grilo, de alcunha, Frade, casado com a irmã Rosário da minha bisavó, a «arraisa» Joana Caloa. Nesse mesmo ano, o meu Avô, Manuel Simões da Barbeira, mais conhecido por Capitão Pisco, sobrinho e afilhado do achador, comandara o lugre Golfinho, também da mesma praça da Figueira da Foz. Entraram essa barra, ambos, a 27 de Outubro de 1912, testemunha o jornal «A Voz da Justiça», da Figueira da Foz.

O capitão, à chegada, deu contas do achado ao seu armador, da Lusitânia Companhia Portuguesa de Pesca, mas, talvez, tendo este ficado com alguns talheres, não deu grande importância ao assunto e aconselhou o Capitão Frade a trazê-los para Ílhavo, ficar com alguns e distribuir os restantes por familiares e amigos. Foi esta a origem das minhas, hoje, seis colheres de prata, com a estrela relevada da WSL.

Esta história mítica, mas «com pernas para andar», porque as coincidências e probabilidades são mais que muitas, manteve-se dezenas de anos no seio destas famílias ilhavenses que não gostavam muito de falar do assunto – fui constatando.

O interesse pelas colheres mágicas ressalta-me, e, na qualidade de Directora do Museu Marítimo de Ílhavo, na década de noventa, tinha gosto em certificar mais esta tradição. Eis que o National Maritime Museum – Greenwich – Londres, em 1994, em grandes parangonas, anuncia a exposição – The Wreck of Titanic. Sorvi a informação e pus-me lá, em dois tempos. Mas, embora tenha apreciado muito, talheres iguais não eram apresentados. Desconfiei…, mas, o peso da tradição ilhavense tinha mais força.

Dez anos mais tarde, o Mercado Ferreira Borges, no Porto, exibiu uma exposição idêntica, que também não me elucidou completamente. Foi preciso chegar a uma terceira exposição apresentada na Estação do Rossio (Restauradores), em 2009, em Lisboa, quando, ao visitar a secção de objectos de cozinha, da baixela e faqueiros da sala de jantar, não me contive que não soltasse uma exclamação de alegria e espanto:      

Aqui estão talheres (eram vários) do Titanic iguaizinhos às colheres que temos lá em casa. Sorri com um brilho nos olhos. Pois, pudera, já tinha comido sopa com elas!!!!!!!!!

Para recordar, um dos filmes feito no Centenário, há 10 anos. Não foi assim há tanto tempo!...

-


Ílhavo, 14 de Abril de 2022

Ana Maria Lopes

sábado, 9 de abril de 2022

Bandeira da Associação Mista de Marinheiros de Ílhavo

 -

Apontamento

No dia 21 de Dezembro de 2021, o Sr. Fernando Gago deslocou-se ao Museu Marítimo de Ílhavo, para fazer a entrega aos Amigos do Museu de Ílhavo da Bandeira da Associação Mista de Marinheiros de Ílhavo, que vinha sendo guardada na casa de um dos seus associados, tendo estado, ultimamente, na sua, muito bem cuidada e preservada.

Entretanto, tendo em consideração a extinção de facto da Associação e como melhor forma de salvaguardar o futuro da bandeira, tendo consultado antigos colegas associados, entendeu que ela deveria ser depositada no MMI, com a ordem expressa de apenas de lá sair para a procissão do Senhor Jesus dos Navegantes.

Esta bandeira foi feita para substituir a original, de 1926, já em muito fraco estado devido ao uso e degradação de materiais, a qual foi entregue, no MMI, a 11 de Novembro de 1988. Veio a ser restaurada, a seu tempo, pelos Amigos do Museu, e encontra-se exposta, presentemente, com os devidos cuidados, no Centro de Religiosidade Marítima de Ílhavo.

E a actual, a que agora foi entregue, como surgiu, quem a pagou e quem tratou de todas essas diligências?

Consultámos alguns livros de actas e de despesas da Associação que também foram entregues e, com a ajuda do Sr. Fernando Gago, esclarecemos essas dúvidas.

Segundo documento sem data, mas, supostamente, de meados dos anos 80, existente nos livros da Associação, a Bandeira dos Marinheiros de Ílhavo, relíquia significativa de todos os que trabalham sobre as águas do mar, atingiu o termo da sua duração. O seu estado é precário, dado que a sua confecção data de 1926.

Entretanto, a 13 de Outubro de 1983, foi consultada a casa de estandartes Sousa & Martins, Lda., do Porto, que deu o orçamento para a bandeira de 47.500 escudos, bem como para uma haste de metal niquelado, articulada e com lança, pelo valor de 5.950 escudos.

Foi feita uma campanha de angariação de fundos, no Jornal “O Ilhavense”, bem como outras iniciativas para o mesmo fim. Só a Junta de Freguesia de S. Salvador, presidida, à época, pelo Sr. Dr. Alcino Couto, contribuiu com 45.000 escudos. Entretanto, a bandeira ficou pronta no prazo agendado, em Novembro de 1984, e foi exposta numa montra central de Ílhavo.

Confeccionada em cetim de seda de primeira qualidade, na dimensão de 110x160 cm., leva ao centro, um emblema composto de uma roda de leme, âncora, bússola, tendo na parte superior, os dizeres ASSOCIAÇÃO MISTA DE MARINHEIROS, ao centro do lado esquerdo Fundada e do lado direito em 1-12-1924, e na parte inferior a palavra ÍLHAVO, tudo bordado a matiz e contornos a ouro, orlada por cordão e borlas, trabalho de grande valor artístico e fino acabamento. Leva a circundá-la uma barra azul, sendo os motivos ornamentais baseados na bandeira original.

Mais uma bonita e valiosa peça de Museu, em bom estado, oferta da dos antigos associados da extinta Associação Mista de Marinheiros de Ílhavo.

-


Foto de Hugo Calão

Ílhavo, 09 de Abril de 2022

Ana Maria Lopes

-

sábado, 2 de abril de 2022

Lembrando a fragata D. Fernando II e Glória

 -

De volta ao baú das memórias, encontrei estas fotos, que sabia que tinha, mas que nunca usara. Tinham-me sido oferecidas por Dinis Nazaré, no início dos anos 90 (18/8/1991), apaixonado pela luta da reconstrução da fragata D. Fernando II e Glória. Constituíam uma reportagem feita por ele, ao estado da embarcação, no Mar da Palha, carcomida pelo tempo, pelas intempéries e por um incêndio que ajudara a devorá-la.

Sem apreciações sobre o processo que não conheço ao pormenor, em 1992, fora rebocada em condições especiais, para a Gafanha da Nazaré, para ser reconstruída pelo saudoso Mestre Alberto e sua equipa, no estaleiro da “Ria Marine”, entre 1992 e Abril de 1997. Passei por lá, algumas vezes, para apreciar o andamento da obra.

Até que, em 8 de Abril de 1997, foi o seu lançamento à água, a que fui convidada para assistir.

Apesar de uma embarcação imponente (por acabar), o seu lançamento não teve a emoção de todos os que já assistira, porque a descida foi lenta e controlada, por diversos motivos técnicos e, porque a ria, no local em causa, não tinha largura nem profundidade para tal. Faz 25 anos, no próximo dia 8 deste mês.

Foi, então, rebocada (não tem meios próprios de deslocação) para Lisboa, onde, no Alfeite, se procederam a todos os trabalhos de pormenor, bem como à sua musealização, tal como foi apresentada na Expo 98.

Voltarei a ela, um dia destes.

-

Lançamento à água (da popa)
-

 

Parte da assistência. Abril de 1997
-

 

No Tejo. Ao fundo, o Cristo-Rei
-

Pormenores da degradação…
-

Pormenores da degradação
-
Pormenores da degradação
-
Pormenores da degradação
-
Dinis Nazaré, entre os escombros
-
Pormenores da degradação
-
-

Ílhavo, 2 de Abril de 2022

-

Ana Maria Lopes

-