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Cap. Francisco Leite
Numa tarde cálida de fim
de Agosto, soalheira, luminosa, de maré cheia, eis que se plasma, longínqua, no
horizonte, a imagem de um barco à vela, impulsionado por uma brisa suave e
mansa, na Costa Nova. De casco envernizado, de linhas quebradas, dá pelo nome
de OK (apa), duas letras também estampadas
a negro, na vela branca, alumiada pelo sol poente reflectido na Gafanha da
Encarnação. É o dono eterno deste barco que, hoje, vem à baila, em Homens do
Mar, a que, aos poucos, venho dedicando algumas horas do meu trabalho e do meu
lazer.
Além dos dados, que,
oficialmente, pude recolher, dos que tenho conhecimento, foi a filha Teresa
que, amavelmente, me cedeu alguns materiais que foram do pai e que conversou
comigo, entusiasmada, saudosa e exuberante.
Sempre
aliei o nome do Cap. Chico Leite à pesca do bacalhau, porque foi, sobretudo, no
Museu de Ílhavo que mais contactei com ele e muitas vezes lá foi, como amigo do
Cap. Chico Marques, também. Por lá aparecia, com frequência.
Apenas
durante 11 anos foi homem dos bacalhaus, se bem que tenha comandado durante
bastantes mais anos, outros e diversos navios.
Sempre
viveu entre mar e ria e dentro ou perto de navios e embarcações.
Francisco
Manuel de Oliveira Leite, filho de José Gonçalves Leite Júnior e de Alzira
Teiga Leite, nasceu em Ílhavo, a 27 de Agosto de 1929, um de três irmãos, no
masculino e no feminino, tendo sido José Teiga Gonçalves Leite, irmão mais
velho, digno oficial da Marinha Mercante.
Do
casamento em 6 de Dezembro de 1958 com Joana Maria Peixe Rodrigues, nasceram duas
filhas, a Ana Margarida e a Teresa Paula Leite.
Francisco
Leite era portador da cédula marítima nº 116.148, passada pela Capitania do
Porto de Lisboa, em 16 de Junho de 1949.
O
facto de ser de Ílhavo, os genes familiares eram o suficiente para o terem
levado para a Escola Náutica. Pertenceu a uma última geração de
capitães-pescadores, que não acabou a sua vida profissional, na pesca do
bacalhau, tendo-lhe dado, posteriormente, outro rumo.
A
sua primeira viagem ao mar, em 1950, foi no arrastão Fernandes Lavrador (já citado), da praça de Lisboa, como praticante
de piloto, apenas na 2ª viagem, sob o comando do ilhavense Fernando Oliveira da
Velha.
Junto ao arrastão
Fernandes Lavrador, à esquerda, em
1950
Na
campanha seguinte, de 1951, fez-se ao mar como imediato do belo lugre-motor Hortense, sob o comando do Cap. João
Simões Chuva, o Anjo, também de Ílhavo.
A bordo do Hortense,
entre a filha e a mulher do capitão
E chegou o ano de 1952
para rumar, de saco e enxoval, ao convés do navio-motor de ferro, da praça de
Viana, São Ruy, (já citado) onde
ocupou o cargo de piloto, tendo como capitão, José Pelicas Gonçalves Bilelo e
imediato, João Araújo, de Viana do Castelo. Nos anos de 53 e 54, assim se manteve
a oficialidade, com pequenas alterações – o capitão, sempre o mesmo, Chico
Leite alternou o cargo de piloto com o de imediato, em 1953, sendo piloto,
Orlando Brandão Vidal, nesse ano.
Chegou-me às mãos uma
relíquia da viagem de 1952, no São Ruy
– agenda pessoal, pormenorizada, escrita pela mão do piloto.
Li-a com muito interesse
e entusiasmo, como é natural. Dela respiguei algumas notas, porque confirmavam
o que já sabia, ensinavam-me o que desconhecia e descreviam alguns incidentes e
decisões a bordo, na perspectiva do piloto, não sendo um diário oficial.
Boas amizades, a bordo… 1952
Pelo que li, os tempos mortos em Lisboa,
eram ocupados com idas ao cinema, ao teatro e até ao futebol e com algumas
compras para a viagem. Com frequência, oficiais amigos encontravam-se para
almoçar, por vezes, também, com representantes oficiais das pescas. E seroadas
também se faziam, entre uns cálices de licor e umas conversas. Neste caso, o
relacionamento era mais entre oficiais do São
Ruy, do Adélia e do Sotto, namorando, na altura, o Chico
Leite com a Rosa Maria Vaz, filha do Cap. José Vaz. E assim se ia aproximando o
dia da Bênção.
A 24 de Maio, depois da pesca da Terra
Nova e de uma estadia de 8 dias em St. John’s, em que meteram isco, saiu o São Ruy para a Groenlândia. Os ditos
apontamentos sempre referem as condições de tempo e mar, a hora dos Louvados,
que oscilava entre as 4.00 h e 4 e meia, a distribuição do isco, a hora da
chamada, o términus da escala e considerações sobre a quantidade e qualidade de
peixe pescado. Em dias de brisa e foram alguns, não se arriou e aconteceu
chegar a distribuir-se o isco e voltar a ser recolhido – o isco era um bem
precioso, que tinha de ser tenteado – por brisa ou informações de mau tempo.
Também as empostas feitas foram
anotadas.
Durante os dias de pesca na Terra Nova,
algumas notas dignas de apreço:
No dia 29 de Abril, à vista, estavam o Madalena,
o Conceição Vilarinho, o Milena, o Inácio e o Argus.
Em dias de brisa, depois de acauteladas
algumas situações no navio, o imediato deitava-se a ler, para além de alguns
dias em que conversavam no salão ou no camarote do capitão.
No dia 17 de Maio, pelas 12 horas, com os botes
já todos a bordo, suspenderam e foram
para St. Jonh’s. Más condições de tempo.
No dia 18,
pelas 21.00 h, meteram piloto e às 2 1e
15, atracaram.
Cerca de oito dias em terra, com afazeres
diversos, – algumas compras, visitas a famílias amigas, idas aos «habituais
clubes», recepções a bordo, jogatanas de futebol no cais. No dia 22, começaram
a meter isco e a 24 de Maio, saiu, então o São
Ruy para a Groenlândia.
(…)
No dia 29 de Maio, navegavam com bom tempo e mar. Às 12.00 h, começaram a avistar-se
algumas ilhas de gelo pela proa. Às 18, veio muita névoa e às 21,45, pararam
por ser perigoso navegar com névoa, por meio de ilhas de gelo.
No dia 30, o piloto fez o quarto com o navio parado, mar estanhado e névoa
fechada. As informações de pesca eram péssimas. Das 11 às 13.00 h, passaram por
diversos campos de gelo, qual deles o mais fechado. Meteram-se por meio deles
por causa da névoa e viram-se obrigados a passar por um buraco, onde mal cabia
o navio. Avistaram-se focas, sobre várias ilhas de gelo.
No dia 31 de Maio, com bom tempo e mar, iscaram-se, ontem, os «trawls», pelo que arriaram
cedo.
Apesar disso, não pescaram nada e, por
isso, também arriaram cedo. Pesca nula. Estavam na beirada de SW do Fiskenaes,
onde, este navio, no ano passado, apanhou muito peixe. Como a falta de peixe é
geral, supõe-se que o bacalhau ainda não entrou nos bancos, devido à baixa
temperatura a que está a água.
No dia 1 de Junho, ouviram a «hora da saudade»
da Gafanha, que se ouviu bem. Falaram alguns conhecidos.
No dia 6, deram uma trawlada e voltaram para bordo. O peixe pescado não chegou para a cozinha.
No dia 7, fizeram nova emposta para o Fiskenaes, onde havia umas amostras de
peixe.
Entre dias de má pesca e outros de melhor,
com botes a aliviar, com algumas empostas,
lá se foi passando a estadia na Groenlândia, com várias notas de relevo:
No dia 17, pelas 10.00 h, chegaram
alguns botes para aliviar. Acabou a escala às 20 horas. Foi dos melhores dias de pesca.
No dia 19, acabou a escala, às 24.00 h.
No dia 20, ficaram satisfeitos com a pesca.
No dia 14, souberam que naufragou, por incêndio, o Maria Frederico, salvando-se toda a tripulação.
No dia 19, assistiu-os o Gil Eannes,
trazendo cartas, encomendas e batatas.
No dia 22, havia mais peixe à zagaia do que ao trawl e melhor.
No dia 23, a pesca foi feita, a maioria,
à zagaia. Acabou a escala às 2 .30 h da madrugada, pelo que foram postos
chapéus de luzes, pois os escaladores já não viam.
No dia 29, o piloto fez a folha de pesca. Antes de jantar, fez os curativos e deu
corda aos cronómetros.
No dia 1 de Agosto, botes a aliviar. De tarde, houve caçada e o piloto arriou para apanhar
os pombaletes mortos.
No dia 11, houve boa pesca, tanto à zagaia, como como ao trawl.
No dia 15, soube-se ter desaparecido o contramestre do Dom Denis. Troca de botes, relativamente aos navios de origem.
Troca de mantimentos e materiais de pesca entre uns e outros, se possível.
Música, por vezes, na escala.
No dia 29, o cap. aguentou pela Groenlândia e não foi para a Terra Nova. O Sotto largou, carregado e outros.
No dia 31, o Chico Leite ouviu a Hora da
Saudade, de Ílhavo. Falou a D. Manuela, a sua irmã e o Cap. Aquiles.
No dia 4 de Setembro, ao almoço, soube que o Rio Caima
tinha água aberta. Todos os navios do Fyllas se concentraram. Houve esperanças,
mas, às 17 h 30, o cap. Júlio (Machado Redondo) resolveu abandonar o navio.
Vieram para o São Ruy 14 homens,
incluindo o capitão. Os últimos a abandoná-lo incendiaram-no.
No dia 5, o Capitão Júlio mais bem-disposto. Chegou o Estêvão, que levou os náufragos do Caima para Portugal.
No dia 7, ao almoço, soube que o Senhora da
Saúde do cap. José Augusto Machado dos Santos, estava a fazer água e em vias de ir ao fundo. À tarde, houve uma
reunião de capitães que resolveram afundá-lo. O António Coutinho recolheu os náufragos e ia trazê-los para o Fyllas.
No dia 9, para o São Ruy, vieram 28
homens. Guardou-se peixe para a viagem, no frigorífico. Alguns homens do Saúde ajudaram à escala.
No dia 11, caiu bastante «snow», ao arriar os botes.
Dóris com «snow». São
Ruy. 1952
Preparou-se
o navio para a viagem, que iniciou às 18.00 h.
O amigo Chico Leite continuou como piloto
do São Ruy, até 1954, alternando o
cargo com o de imediato, na safra de 1953, sempre sob o comando de José Pelicas
Gonçalves Bilelo.
A bordo do São Ruy, em 2º plano, à nossa direita. 1953
E numa «emposta», desta
vez, para o navio-motor de ferro, Sam Tiago, construção dos Estaleiros
Navais de Viana do Castelo (ENVC), em 1955, para a Sociedade Nacional dos
Armadores do Bacalhau (SNAB), nos anos de 1955, 56 e 1957, sob o comando de seu
irmão, José Teiga Gonçalves Leite, estreou-o como imediato, com o piloto
Orlando Brandão Vidal, em 1955, Samuel Guerra Tavares Maia, em 1956 e Amândio Manuel da Rocha Pinguelo, em 1957.
A
bordo do Sam Tiago, ao centro, com Orlando Vidal. 1955
E nos anos de 1958, 59 e
1960, «saltou», desta vez, para o comando do Sam Tiago, com Amândio Manuel da Rocha Pinguelo, como imediato e
com António José Ferreira da Costa, de Lisboa, como piloto. nos anos 1958 e 59. Em 60, o piloto fora Fernando Duarte Vieira do
Coito, de Lisboa.
O ano de 58 foi um ano de
pescas muito fracas, de muito mau tempo e de fortes ciclones. Só navios,
naufragaram seis. Os de 59 e 60, pouco melhores.
Uma vez que tive acesso aos
«diários de pesca» do Sam Tiago,
nestes três anos, o ano em que o navio deu à descarga maior quantidade de peixe
foi o de 1958 – 15.000 quintais, sensivelmente.
Passei-lhe os olhos com interesse, para
ver se referia algo de especial, para além das datas, posições, ventos, estado
do mar, estado da atmosfera, quantidade e qualidade de isco, hora legal de
arriar e de chamar, nº de pescadores ao activo e quantidade de pesca diária. A
saber:
– entradas
e saídas em St. Jonh’s e em que condições
– botes
a aliviarem, sinal de razoável ou boa pesca
– a
aproximação do navio-hospital Gil Eannes,
sinónimo de assistência a bordo, na doença, abastecimento de diversos
mantimentos, troca de encomendas, etc., etc.
– navios
à vista, com os quais se mantinha bom relacionamento e um espírito solidário de
interajuda, eram indicados, frequentemente. Cediam, se possível, uns aos
outros, por empréstimo, isco, botes, remos, estrafego (linhas, anzóis…),
mantimentos, etc.
- o
naufrágio do Maria das Flores, do
capitão Vidal, que estava com água aberta, no dia 17 de Setembro de 1958, pelo
que foi pedido ao Sam Tiago que se
aproximasse, perto de Eastern Shoals, nos bancos da Terra Nova. Foram lá o
Chico Leite, o irmão, José Leite, o Capote e o João Costa, tendo-se decidido
abandonar o navio, posteriormente incendiado. Dele vieram para o Sam Tiago seis pescadores.
– o produto da «pesca ao pingalim», por
vezes, superava o rendimento da «trawlada».
– à saída de Faeringerhavnen, nos baixios,
na Groenlândia, encalhou neste ano de 1959, no dia 10 de Agosto, o Santa Maria Madalena, do cap. José
Bolais Mónica, que já estava a ser assistido. Depois da recolha dos botes, o Sam Tiago dirigiu-se ao São Ruy para buscar seis náufragos: 1º
maquinista, 2º motorista e quatro pescadores.
Na leitura do diário de 1960, para além
das rotinas, melhores ou piores, de notar o naufrágio do navio Condestável, do comando do capitão
Pascoal, com incêndio a bordo, a 30 de Agosto. Uma amizade notória do cap. Chico Leite com um
camarada e a perda de um homem da tripulação, chamaram-me peculiar atenção.
A amizade fui certificá-la numa visita ao
capitão Manuel Machado, já que um navio que frequentemente era citado era o Avé Maria que sempre associei a este
capitão. O amigo Manuel Machado confirmou-me toda uma grande amizade e simpatia
pelo Chico Leite, – um bom camarada, um bom amigo, uma boa pessoa,
competentíssimo – certificando o grande convívio que houve entre eles, nesta
viagem de 1960, Francisco Leite, enquanto capitão do Sam Tiago e Manuel Machado do Avé
Maria – os vários encontros, conversas, almoçaradas e jantares, a bordo de
um dos seus navios.
Relativamente à trágica perda de um
tripulante, entre as folhas do diário de pesca, um rascunho solto, dactilografado,
que passo a transcrever, atraiu-me a atenção:
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RELATÓRIO
No dia 18 de Abril de 1960, encontrando-se
este navio Sam Tiago na recolha dos
botes, cerca das 16.30 horas locais verificou-se faltar um bote, pelo que eu,
capitão do navio, mandei o imediato procurar com o binóculo, o bote em falta, tendo-se
visto imediatamente uma vela bastante longe e para os lados de SW. Por faltar
unicamente um bote, por não haver outro navio à vista e pela cor da vela,
adquiriu-se a certeza tratar-se do bote em falta. Este foi-se aproximando do
navio, mas a dado momento e quando ele já se encontrava próximo, deixou de se
ver repentinamente. Imediatamente mandei suspender o ferro e segui a toda a
velocidade cerca de dez minutos para barlavento para as proximidades do local
onde havia sido visto pela última vez. Quando ainda navegava, avistei pela proa
vários objectos a flutuar; calculando tratar-se de pertenças do bote,
aproximei-me e verifiquei assim ser e avistando próximo o bote voltado de fundo
para o ar. Imediatamente mandei arriar dois botes e a baleeira motorizada para
tentar encontrar o náufrago e recolher os objectos que flutuavam. O bote
encontrava-se com a vela içada e a escota amarrada à borda e com o cesto do
trol amarrado à proa, tudo indicando que se tinha voltado quando seguia à vela.
Também foi encontrado bastante peixe
boiando. Recolheram-se todos os objectos à
vista não se tendo encontrado o corpo do pescador.
O pescador desaparecido chamava-se António
Simões Batista, de 33 anos de idade, filho de João Batista Camilo e de
Felicidade de Jesus, era natural de Ílhavo, casado, inscrito na Capitania de
Aveiro com o número 24806, em 15 de Fevereiro de 1945.
Foram expedidos no mesmo dia telegramas a
informar o Grémio e os Armadores do navio.
Na altura, havia as seguintes condições
atmosféricas: céu forrado, horizonte limpo, vento SW, força 2 a 3 e ondulação
sudoeste moderada. Já se encontravam estas condições desde cerca de meio-dia.
Bordo, 18 de Abril de 1960
O Capitão
Após esta viagem, por ter nascido a
primeira filha e não querer estar longe da família, tanto tempo, Francisco
Leite deixou a pesca do bacalhau, para estar em casa, com mais frequência. E,
assim, teve uma longa carreira na Sacor Marítima Limitada, de onde se
aposentou, em 1985.
Tendo feito, intervaladamente, algumas
viagens de imediato no navio Sacor,
com o capitão Ferreira da Silva, logo passou definitivamente a capitão do mesmo
navio, até 1968.
A bordo do Sacor, à nossa esquerda, em 1961
Entre 1968 e 84, comandou o navio Bandim e, entretanto, supervisionou a
construção do navio Galp Sines,
entregue a de 2 de Abril de 1985, que, seguidamente, comandou, até à reforma.
Comandante muito competente e fortemente
respeitado por colegas e superiores, recomendou a entrada de alguns oficiais
ilhavenses mais jovens para a Sacor, sempre e apenas aqueles que considerava
também competentes.
No princípio de vida do bacalhau, entre
viagens, fez algumas de comércio nos navios Moçambique, Santa Rita I e
Pátria, segundo consta da sua Cédula de Inscrição Marítima.
Depois da aposentação, passou a viver
quase definitivamente na Costa Nova, entre ria e mar, em palheiro atípico, bonito,
branco, listado de vermelho, na horizontal, nº 102 da Calçada Arrais Ançã,
finamente decorado, comprado a Joaninha Ramalheira e marido, casal de
portugueses, emigrados nos Estados
Unidos.
Mas, mais algumas aventuras marítimas o
esperavam, antes de, extemporaneamente, nos deixar.
Ligado familiarmente a viagens turísticas
através da filha Ana Margarida, fez uma viagem de turismo, no renovado paquete Funchal com a mulher. Tanto perguntou, tanto colaborou, tanto se
«meteu como o piolho pela costura», que foi convidado, e fez, algumas viagens
nesse paquete, como comandante.
Saiu de Lisboa a 4 de Dezembro de 1991
para Salvador, Rio de Janeiro e Santos, após o que efectuou um programa
completo de cruzeiros de Verão para o mercado brasileiro, tendo regressado a
Lisboa a 21 de Março de 1992.
Anteriormente, no paquete Vasco da Gama, ex- Infante D. Henrique, já também fizera uma viagem de volta ao
mundo, comandando o navio juntamente com o Comandante Kotrozos, grego, com
saída de Génova a 7 de Janeiro de 1989 e regresso a 27 de Abril do mesmo ano,
com 110 dias de viagem, com passageiros alemães (dados fidedignos e confirmados
por Luís Miguel Correia). Ambos os paquetes navegavam, na altura, com registo e
bandeira do Panamá, propriedade de empresas do armador grego Potamianos e
geridos a partir de Lisboa, pela empresa Arcália.
Em viagem aos Estados Unidos, de recreio e
de visita à filha Teresa, em Junho de 1992, correu tudo quanto era museu
marítimo ou navio musealizado. Não poderia faltar o «nosso» Gazela, em Filadélfia, «dando cartas»,
ao descobrir e informar que a fotografia do irmão, José Teiga Gonçalves Leite, que
havia sido capitão (nº12) daquele mítico navio em 1950 e 51, não era a
verdadeira imagem. No dia seguinte, acima de tudo, tornou-se clara, até para os
curadores do Museu, a profundidade do conhecimento náutico que tinha e a sua
paixão pelo mar, navios e pelos tempos do bacalhau. Depois de «dar uma lição de
Gazela», aos conservadores do navio-museu,
deixou-lhes a fotografia certa.
Junto ao navio-museu Gazela I, em
1992.
Pela Costa Nova, ensinou muitos jovens a
velejar. Sobretudo, desde que mandou construir o
OK(apa), em 1973, descobriu o «Cruzeiro da Ria», que, para ele, era uma oportunidade de ir mais
longe pela ria acima e de fazer amigos velejadores para além da Costa Nova.
Adorava o convívio e a camaradagem dos costanovenses
que se apoiavam na competição e na logística de levar e trazer os barcos,
quando não havia ainda clube de vela. Foi sócio fundador do Clube de Vela da
Costa Nova e participou activamente em regatas e eventos do clube, até ao fim.
Pela
mesma altura, foi Presidente da Assembleia Geral da Associação dos Amigos do
Museu de Ílhavo, desde 1994 até 2001, tendo colaborado imenso no evento, «De
novo na Terra Nova», no Verão de 1998.
Depois de uma doença súbita e cruel,
deixou-nos em 16 de Junho de 2001, com 71 anos de idade, levando-nos a
recordá-lo com saudade.
Fotografias cedidas pela filha Teresa
Ílhavo, 16 de Fevereiro
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Ana
Maria Lopes-