Na casa das máquinas do n/m Vimieiro. 1959
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Nestas
notas biográficas, desta vez, vem à liça Mário Paulo do Bem, também conhecido
por Mário Agualuza, por sua mãe se chamar Maria Agualuza Lau.. Ultrapassam-se,
por vezes, umas relativamente a outras, das possíveis, só porque o material
consegue chegar-me às mãos com mais facilidade. Sobretudo, o empréstimo de
imagens, que, quando existem, não estão assim muito à mão, entre caixas, sótãos
e baús. Mas, várias notas biográficas estão «na carreira». Um dia chegarão a
bom porto.
Mário
Paulo do Bem, natural de Ílhavo, nasceu a 16 de Agosto de 1907 e deixou-nos em 20 de Outubro de 1976.
Morador
na dita Avenida dos Capitães, foi casado com a senhora D. Maria Fernandes
Carlota do Bem, de quem teve três filhos, todos do meu conhecimento. Foi a
Alcina Paula que me teve a gentileza de me emprestar algumas das últimas
imagens e outras foram-me aparecendo, sei lá, noutros conjuntos de homens do
mar em que se integrava.
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Encontro
os seus primeiros registos de viagem, sendo possuidor da cédula marítima nº
17.045, passada pela capitania de Aveiro, em 1921, nas campanhas de 1936 e 37, no lugre-motor Cruz de Malta,
sob o comando do meu Avô, Manuel Simões da Barbeira, de alcunha, Pisco.
Destinos cruzados, com idades diferentes.
Pilotou
de seguida, nas campanhas de 1938 a 42, o lugre-motor
Labrador, ex-navio dinamarquês
Lydia, construído em 1919, sob o comando de António Simões Picado.
A bordo do lugre Patriotismo,
no Porto
Na
imagem anterior, que me fascina, da esquerda para a direita, identificamos o
capitão Jorge Trólaró do lugre Patriotismo, pelo final dos anos 30, Mário Paulo do Bem e António Simões
Picado, respectivamente imediato e capitão do lugre Labrador, todos de
Ílhavo.
A bordo do Labrador…
Sentado
no convés, Eduardo Santos Labrincha, no albói,
à esquerda, José Marques de Oliveira e Mário Paulo do Bem, piloto, à direita,
com a bóia sobre os joelhos. De pé, o cozinheiro.
E
ascendeu ao posto de capitão, nas viagens de 1943 e 44, no Neptuno 2º, lugre-patacho de madeira, construído em Vila do Conde, em 1873, reconstruído em 1926, por Manuel Maria
Bolais Mónica, e armado em lugre, tendo
feito a última campanha ao serviço da Parceria Geral de Pescarias, no ano de
1938. Quando foi comprado pela Empresa de Pesca de Portugal, Lda., de Ílhavo, da
gerência de Francisco Abreu, para a campanha de 1939, passou a chamar-se Neptuno Segundo. Foi seu piloto na campanha de 44, Manuel de Oliveira Vidal Júnior, de Ílhavo, com quem voltaria a
cruzar-se nestas andanças marítimas.
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Na
campanha de 1945 seguida da de 46,
teve o grato prazer de estrear o elegante e gracioso lugre-motor Maria Frederico,
construído na Gafanha da Nazaré por António Pereira da Silva, também para a
Empresa de Pesca de Portugal, Lda., de Ílhavo, com seca na Malhada, a antiga
«seca do Abreu». Foi, de novo, seu piloto em ambas as campanhas, Manuel de Oliveira Vidal Júnior.
O Maria
Frederico, em dia de bota-abaixo. Dezembro de 1944.
Em
1947, comandou o esbelto lugre com motor Groenlândia, ex-Viana, ex-lugre-escuna Groenlândia, reconstruído nos estaleiros de António Mónica, em
1940, para Armazéns José Luís da Costa & Cª Lda, cujo imediato era Joaquim
Martins da Rocha, de Lagos. Em 1941, este lugre levou a bordo o jornalista Jorge
Simões que viria a escrever Os Grandes
Trabalhadores do Mar.
O Groenlândia
em dia de bota-abaixo. 1940
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Comandou
o lugre com motor, de madeira, Viriato, construído na Gafanha da
Nazaré, em 1945, construído por Alberto Matos Mónica também para Armazéns José
Luís Costa & Cª, Lda., com sede em Lisboa, durante as campanhas de 1948 até 1955 (inclusive). Nestes oito anos,
foram diversos os imediatos que trabalharam com ele, tendo sido de Ílhavo, João
Nunes de Oliveira (Codim), António Remígio Sacramento Teiga e Carlos Alberto Pereira
da Bela.
Volta de mar no Viriato.
Sd.
Nas
campanhas de 1956, 57 e 58, comandou o Sernache, navio-motor, de
ferro, construído na Holanda em 1948, para mesma empresa do Viriato. Foi sempre seu imediato,
durante estes anos, Armando Gonçalo Nogueira, de Lisboa.
Na
viagem de 1959, teve o prazer de
estrear como capitão o navio-motor Vimieiro, construído nos Estaleiros de
São Jacinto, de novo, para Armazéns José Luís Costa & Cª, Lda., com sede em
Lisboa. Foi seu imediato João Augusto Ramos, da Gafanha da Nazaré e piloto João
Sílvio Serrano Matias, de Ílhavo.
Os pilotos
foram, respectivamente, Amândio Manuel da Rocha Pinguelo, de Ílhavo, Américo de
Oliveira Nunes da Matta, de Lisboa e Manuel Seiça Filipe, de Ílhavo.
No Vimieiro,
em dia festivo, no Tejo. 1959
Durante
o ano de 1960, não foi à pesca.
Durante
os anos de 1961 a 1965 (inclusive), comandou o Oliveirense, lugre-motor construído na Gafanha da Nazaré por António Bolais
Mónica, em 1938 para a Empresa de Pesca do Bacalhau do Porto, Lda. Gémeo do Delães, na campanha de 1942, passou
para a propriedade da SNAB.
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O Oliveirense,
em Lisboa. 1950
No
jornal da nossa terra de 10.8.1965,
chegou a notícia de se ter incendiado nos Bancos da Terra Nova o lugre-motor Oliveirense, pertencente à Sociedade Nacional de Armadores do
Bacalhau, sendo capitão Mário Paulo do Bem e, imediato, Manuel dos Santos
Malaquias de Ílhavo. A tripulação, constituída por 52 pessoas, foi salva pelo
n/m São Jorge e ter-se-á, deslocado,
ao tempo, de avião para Portugal.
Em 1966 o nosso
Capitão Mário comandou o Elisabeth,
em 1967 e 1968 foi imediato do n/m São
Jorge e em 1969 comandou o navio
de comércio Julieta, com bandeira do
Panamá, da Sociedade de Navegação Baltir, da gerência de Francisco de Abreu. O
navio em 1970 ficou arrestado em Espanha.
Mais uma vida completamente cheia de mar, vivida no mar, muito longe dos seus
familiares, acabando por viver em terra, no fim da vida, uma meia dúzia de
anos. Era, assim a vida dos capitães ilhavenses.
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Fotografias – Arquivo pessoal e
gentil cedência da Família do Capitão
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Costa Nova,
21 de Julho de 2016
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Ana Maria Lopes
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