Percorrendo os jornais O Ilhavense de 1927, cheguei, em 20 de Março, a uma notícia que, pelo pormenor descritivo e sabor informativo da época, me seduziu.
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Ei-la, salteada:
(Sic) Sábado, 12 de Março.
Dia de sol e de animação na vila.
Pelas 5 horas e meia, sobem ao ar, em frente à Associação dos Oficiais da Marinha Mercante, foguetes e morteiros.
O que será, o que não será, e eis que dentro em pouco, corre de boca em boca, esta notícia:
– Chegou uma bandeira nova para a Associação dos Oficiais Náuticos.
De facto assim sucedia (…). Há rostos onde se divisa uma alegria infinda. Há almas fortes de marinheiros audazes que mal podem exteriorizar a sua satisfação, de comovidos que se sentem.
Também fomos ver a linda bandeira, em quase tudo semelhante à antiga bandeira marítima, que tanta gente amiga tem acompanhado à última morada, que em tantos cortejos cívicos tem drapejado alegre e vistosa.
O novo símbolo da Associação dos Oficiais é toda de seda azul e branca, bordada a ouro fino, tendo ao meio, em alto relevo, uma galera de três mastros tecida a ouro.
Por cima, o dístico Associação dos Oficiais da Marinha Mercante. Por baixo da galera: Ílhavo – 1921 – 1926.
(…) A data de 1921 é a da fundação e 1926, a da confecção da bandeira. Foi executada pela casa Joaquim da Silveira Melo & Cª do Porto e importou em cinco mil escudos, segundo a factura apresentada.
(…) Sob a galera uma cercadura a ouro, em anéis circulares e pendentes desta, uma bóia de salvação, uma ampulheta, uma rosa dos ventos, os símbolos da Fé, Esperança e Caridade, uma roda de leme, um sextante e uma âncora.
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– Quando tencionam inaugurar a bandeira?
– Talvez para a Páscoa, com uma sessão solene.
– E à bandeira antiga, que destino tencionam dar-lhe?
– Ficará para acompanhar ao cemitério todos os seus sócios ainda existentes. A nova fica só para os sócios da Associação, seus pais e filhos, conforme resa o regulamento interno desta colectividade.
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Já agora, que a Associação dos Oficiais já não existe, que opinariam estes, se lhes fosse proposto quotizarem-se, quase simbolicamente, para ajudarem a restaurar a sua bandeira, quase centenária e representativa da classe?
Segundo o nosso Jornal de 24 de Abril de 1927, a dita bandeira lá foi então inaugurada. Às 6 horas da tarde de Domingo de Páscoa, saiu da sede da Associação o cortejo constituído pelos sócios daquela colectividade, à frente dos quais ia a abandeira conduzida pelo Sr. Capitão Calixto António Ruivo e ladeada pelos senhores José Ançã Novo e João Francisco grilo (o Frade). No couce do acompanhamento, ia a Filarmónica Ilhavense.
Dirigiu-se o cortejo à igreja paroquial desta freguesia onde o Reverendíssimo Padre Manuel de Campos, revestido de sobrepeliz e estola rica, procedeu à bênção do lindo pavilhão, junto ao altar do Senhor Jesus dos Navegantes.
Após as palavras sacramentais: Per Christum Dominum nostrum. Amen, fez-se a aspersão da água benta.
Após as palavras sacramentais: Per Christum Dominum nostrum. Amen, fez-se a aspersão da água benta.
(…) Finda a cerimónia religiosa, voltou o cortejo à sede da Associação onde dispersou, ficando a bandeira exposta ao público.
Apetitosa descrição e que grande reinação!
Parece que existe ou existiu uma foto do acto, que nunca tive o prazer de ver, para, agora, aqui, relembrar.
A quem a possuir, agradecemos o favor de a partilhar connosco, para enriquecer o processo documental.
Fotografias – Da autora do blog
Ílhavo, 28 de Novembro de 2011
Ana Maria Lopes
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